AS DORES DO SENHOR NA CRUZ.
Diz Santo Agostinho não haver morte mais acerba que a morte da cruz, pois, como nota São Tomás, os crucificados têm os pés e as mãos transpassados, partes essas que sendo compotas de nervos, músculos e veias, são extremamente sensíveis à dor, e o só peso do corpo pendido faz que a dor seja contínua e se aumente sempre mais até à morte. Mas as dores de Jesus ultrapassavam todas as outras dores, pois, como diz o Angélico, o corpo de Jesus Cristo, sendo de delicadíssima compleição, era mais sensíveis e sujeito às dores: corpo que foi expressamente preparado pelo Espírito Santo para sofrer como Ele predissera e conforme o atesta o Apóstolo: Formaste-me um corpo (Hb 10,5). Além disso, São Tomaz diz que Jesus Cristo suportou uma dor tamanha que só ele seria suficiente para satisfazer a pena que mereciam temporariamente os pecados de todos os homens. Afirma Tiepoli que na crucifixão deram 28 marteladas sobre suas mãos e 26 sobre seus pés.
Minha alma, contempla o teu Senhor, contempla tua vida que pende desse madeiro: E a tua vida estará como suspensa diante de ti (Dt 28,66). Vê como naquela patíbulo doloroso, suspenso desses cravos cruéis, não encontra posição nem repouso. Ora se apoia sobre as mãos, ora sobre os pés, mas onde se firma aumenta a dor. Ora volve a dolorosa cabeça para uma parte, ora para outra, se a deixar cair sobre o peito, as mãos e os pés rasgam-se mais com o peso, se a deita sobre os ombros, estes ficam feridos pelos espinhos; se a apoia sobre a Cruz, enterram-se os espinhos ainda mais na sua cabeça. Ah, meu Jesus, que morte horrível é a que sofreis! Meu Redentor crucificado, e vos adoro nesse trono de ignomínia e de dores. Leio que está escrito nessa cruz que sois Rei: Jesus Nazareno, rei do judeus (Jo 19,19). Mas afora este título de escárnio, qual outro sinal de vossa realeza? Ah, essas mãos cravadas, essa cabeça coroada de espinhos, esse trono de dores, essas carnes dilaceradas vos fazem conhecer por Rei, mas Rei de Amor. Aproximo-me, pois humilhado e contrito, para beijar vossos pés sagrados trespassados por meu amor, abraço essa cruz, na qual, vítima de amor, quisestes sacrificar-vos à justiça divina por mim, feito obediente até à morte, e morte de cruz (Fl 2,8). Ó feliz obediência, que no obtém o perdão dos pecados. E que seria de mim, ó meu Salvador, se Vós não tivésseis pago por mim? Agradeço-vos, meu amor, e pelos merecimentos dessa sublime obediência vos peço que me concedais a graça de obedecer em tudo à vossa divina vontade. Desejo o Paraíso unicamente para sempre Vos amar e com todas as minhas forças.
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