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domingo, 20 de abril de 2025

MEDITAÇÃO DE HOJE


DO JUÍZO UNIVERSAL
Assim que os mortos ressuscitarem, farão os anjos que se reúnam todos no vale de Josafá para serem julgados (cf. Jl 3,14) e separarão ali os justos dos réprobos (cf. Mt 13,49). Os primeiros ficarão à direita; os condenados, à esquerda... Profunda mágoa sente quem se vê separado da sociedade ou da Igreja. Quanto maior será a dor de ver-se banido da companhia dos santos! Que confusão experimentaram os ímpios, quando, apartados dos justos, se sentirem abandonados! Disse São João Crisóstomo que, se condenados não tivessem de sofrer outras penas, essa confusão bastaria para dar-lhes os tomentos do inferno. Haverá filhos separados de suas pais; esposos, de suas esposas; amos, de seus servos... (cf. Mt 24,40). Dize-me, meu irmão, em que lugar crês que te acharás então? Queres estar à direita? Abandona, portando, o caminho que conduz à esquerda. Neste mundo, têm-se por felizes os príncipes e os ricaços, e se desprezam os santos, os pobres e os humildes. Ó cristãos fiéis, que amais a Deus! Não vos aflijas por viverdes tão atribulados e vilipendiados neste mundo. "Vossa tristeza  se converterá em gozo" (Jo 16,20). Então verdadeiramente series chamados bem-aventurados e tereis a honra de ser admitidos à corte de Cristo. Em que celestial formosura resplandecerá um São Pedro de Alcântara, que foi injuriado como apóstata; um São João de Deus, escarnecido como louco; Um São Pedro Celestino, que, renunciando ao Pontificado, morreu nu cárcere! Que glória alcançarão tantos mártires entregues outrora à crueza dos verdugos! (cf. I Cor 4,5). Que horrível figura, pelo contrário, fará um Herodes, um Pilatos, um Nero e outros poderosos da Terra, condenados para sempre! Ó amigos e cortejadores deste mundo! Ide para o vale, naquele vale vos espero. Ali, sem dúvida, mudareis de parecer; ali, chorareis vossa loucura. Infelizes! Tendes de representar um brevíssimo papel no palco deste mundo e preferis o de réprobos na tragédia do juízo universal! Os eleitos serão colocados à direita, e para maior glória - segundo afirma o Apóstolo - serão elevados aos ares, acima das nuvens, e esperarão com os anjos a Jesus Cristo, que deve descer do Céu (cf. I Ts 4,17). Os réprobos, à esquerda, como reses destinadas ao matadouro, aguardarão o Supremo Juiz, que há de tornar pública a condenação de todos os seus inimigos.

Abrem-se, enfim, os Céus e aparecem os anjos para assistir ao juízo, trazendo os sinais da Paixão de Cristo, disse Santo Tomás. Singularmente resplandecerá a Santa Cruz. "E então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu; e todos os povos da terra chorarão" (Mt 24,30). "Como, à vista da Cruz", exclama Cornélio a Lápide, "hão de gemer os pecadores que desprezaram sua salvação eterna, que tanto custou ao Filho de Deus". "Então", diz São João Crisóstomo, "os cravos se queixarão de ti; as chagas contra ti falarão; a Cruz de Cristo clamará contra ti". Os Santos Apóstolos serão assessores deste julgamento e todos aqueles que os imitaram. E com Jesus Cristo julgarão os povos. Ali também assistirá a Rainha dos Anjos e dos homens, Maria Santíssima. Aparecerá, enfim, o Eterno Juiz em luminoso trono de majestade. "E verão o Filho do homem, que virá nas nuvens do céu, com grande poder e majestade. "E verão o Filho do homem, que virá nas nuvens do céu, com grande poder e majestade" (Mt 24,30). "À sua presença chorarão os povos" (ibid.). A presença de Cristo trará aos eleitos inefável consolo, e aos réprobos aflições maiores que as do próprio inferno - disse São Jerônimo. Dai-me o castigo que quiserdes, mas não me mostreis naquele dia o vosso rosto indignado. São Basílio disse: "Estas confusão excede toda a pena". Cumprir-se-á então a profecia de São João: os condenados pedirão às montanhas que caiam sobre eles e os ocultem à vista do Juiz irritado (cf. 6,16).

sábado, 19 de abril de 2025

MEDITAÇÃO DE HOJE.


OS DESEJOS MATAM O PREGUIÇOSO (Pr 21,25).
Muitos são chamados à perfeição, são impulsionados a ela peal graça, adquirem o desejo dela; mas, porque depois não se decidem, vivem e morrem na podridão de sua vida tépida e imperfeita. Não basta o desejo da perfeição, se ainda não há a firme resolução de consegui-la. Quantas almas não se alimentam somente de desejos, sem jamais dar um passo na senda de Deus! Estes são os desejos de que fala o Sábio: Os desejos mata o preguiçoso (Pr 21,25). O preguiçoso sempre deseja, e não se decide nunca a fazer uso dos meios próprios do seu estado para tornar-se santo. Diz: Oh, se eu estivesse num deserto, e não nesta casa! Oh! se pudesse ir viver noutro mosteiro, entregar-me-ia todo a Deus! E, ao mesmo tempo não pode suportar aquele colega, não pode ouvir uma palavra de contradição, dissipa-se entre muitos cuidados inúteis, comete mil faltas de falatório, de curiosidade e de soberba: e depois suspira ao vento: Oh se eu tivesse, oh se eu pudesse, etc. Tais desejos trazem mas estragos que proveito; porque alguns se nutrem deles e, mesmo assim, vivem e seguem vivendo imperfeitos. Dizia São Francisco de Sales: "Eu não aprovo que uma pessoa ligada a alguma obrigação ou vocação se ponha a desejar outro tipo de vida que não aquele que é conveniente ao seu ofício, nem outros exercícios incompatíveis ao seu estado presente, porque isso distrai o seu coração e o faz perder o vigor nos exercícios necessários".

É necessário, pois, desejar a perfeição e resolutamente lançar mão dos meios para alcançá-la. Escreve Santa Teresa: "Deus não que de nós mais que uma resolução, para depois fazer Ele mesmo tudo da Sua parte. De almas irresolutas o demônio não tem medo". A isso serve a oração mental, para acionar aqueles meios que nos conduzem à perfeição. Há aqueles que muito oram, mas com sua oração nunca alcançam nada. Dizia a mesma santa: "Eu prefiro uma oração breve que produza grande efeitos, àquele de muitos anos em que a alma não termina de se decidir a fazer algo de valor por Deus". E noutra passagem diz: "Eu sei por experiência própria que quem a princípio se esforça por decidir fazer algo, por difícil que seja, se o fizer para agradar a Deus, não haverá o que temer". 

sexta-feira, 18 de abril de 2025

MEDITAÇÃO.


JESUS MORRE NA CRUZ.

"Era já mais ou menos a hora sexta quanto houve treva sobre a terra inteira até a hora nona, tendo desaparecido o sol. O véu do Santuário rasgou-se ao meio, e Jesus deu um grito: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito". Dizendo isso, expirou".

Eis que o Salvador está prestes a morrer. Contempla, minha alma, aqueles belos olhos que se obscurecem, aquela face já pálida, aquele Coração que palpita lentamente, aquele sagrado Corpo que já se entrega à morte. Tendo Jesus experimentado o vinagre disse: Tudo está consumado (Jo 19,30). Põe ainda uma vez diante dos olhos todos os padecimentos sofridos durante sua vida, pobreza, desprezos, dores e, oferecendo então tudo a seu eterno Pai, diz: Tudo está consumado. Meu Pai, eis já completa a redenção do mundo com o sacrifício de minha vida. E voltando-se para nós, como para que respondamos, repete: Tudo está consumado, como se disseste: "Ó homens, amai-me, porque Eu fiz tudo e nada mais tenho a fazer para conquistar o vosso amor".

Chega afinal a hora, e Jesus falece. Vinde, ó anjos do Céu, vinde assistir à morte de vosso Rei. E vós, Mãe dolorosa, chegai-vos mais à cruz e contemplai atentamente vosso Filho, pois está prestes a expirar. E ele, depois de ter recomendado seu espírito ao Pai, invoca a morte, dando-lhe a permissão de tirar-lhe a vida. "Vem, ó morte, lhe diz, "depressa exerce o teu ofício, mata-me e salva as minhas ovelhas". A terra treme, abrem-se os sepulcros, rasga-se o véu do Templo. Já faltam as forças ao agonizantes Jesus; pela violência das dores, foge-lhe o calor, fica inerte seu corpo, abaixa a cabeça, abre a boca e morre. Depois, inclinando a cabeça, rendeu o espírito. A gente o vê expirar e, notando que não faz mais movimento, diz: "Está morto, está morto". E a estes se alia também a voz de Maria, que diz por sua vez: "Ah meu Filho, tu já estás morto!". Está morto! Quem, ó Deus, está morto? Está morto o Autor da vida, o Unigênito de Deus, o Senhor do mundo. Ó morte, tu foste o assombro do Céu e da Terra. Ó amor infinito! Um Deus sacrificar sua vida e seu sangue por quem? Por suas criaturas ingratas, morrendo num mar de dores e de desprezos para pagar as suas culpas! Ó bondade infinita" Ó amor infinito! Ó meu Jesus, Vós morrestes, pois, pelo amor que me consagrastes. Não permitais, portanto, que eu viva um instante sequer sem vos amar. Eu vos amo, meu sumo bem, eu vos amo, meus Jesus, porto por mim. Ó Mãe das Dores, Maria, ajudai a um servo vosso que deseja amar Jesus.

MEDITAÇÃO.


PALAVRAS DE JESUS NA CRUZ.

Enquanto Jesus é ultrajado na cruz por aquela gente bárbara, Ele suplica por eles e diz: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lc 23,34). Ó Pai Eterno, ouvi vosso Filho bem amado, que, morrendo, vos roga que me  perdoeis também a mim, que tantas vezes vos ofendi. Depois Jesus, voltando-se para o bom ladrão que lhe pede perdão, diz: Hoje estarás comigo no paraíso. Oh, como é verdade o que diz o Senhor por Ezequiel que, quando um pecador se arrepende de suas culpas, Ele se esquece, por assim dizer, de todas as ofensas que lhe foram feitas: Se o ímpio fizer penitência de todos os pecados que cometeu (...) Eu não me lembrarei mais de nenhuma das iniquidades que praticou (Ez 18, 21-22). Oh, se eu nunca vos tivesse ofendido, ó meu Jesus; mas, visto que o mal está feito, esquecei-vos, eu vos suplico, dos desgostos que vos dei; e por aquela morte tão cruel que sofrestes por mim, levai-me ao vosso Reino depois de minha morte; e enquanto eu vivo, fazei que o vosso amor reine sempre em minha alma.

Jesus agonizando na cruz, com seus ombros dilacerados e sua alma sumamente aflita, procura quem o console. Olha para Maria; mas essa mãe dolorosa mais o aflige com suas dores. Busca conforto junto de seu Pai; mas este, vendo-o coberto com todos os pecados dos homens, também o abandona. Foi então que Jesus deus um grande brado: Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste? (Mt 27,46). Este abandono do Pai Eterno fez que a morte de Jesus fosse a mais amarga que jamais sofreu algum penitente ou algum mártir, pois foi uma morte toda desolada e privada de qualquer alívio. Ó meu Jesus, como pude viver tanto tempo esquecido de Vós? Agradeço-vos o não vos terdes esquecido de mim. Eu vos suplico que me façais recordar sempre na morte cruel que suportastes por meu amor, para que nunca mais me esqueça do amor que tendes testemunhado. 

Afinal, sabendo Jesus que seu sacrifício já estava consumado, disse: Tenho sede (Jo 19,28). E aqueles carrascos puseram-lhe nos lábios uma esponja toda embedida em vinagre e fel. Mas, Senhor, Vós m]ap vos queixais de tantas dores que vos roubam a vida e agora vos queixais da sede? Ah, eu vos compreendo, meu Jesus, a vossa sede é sede de amor, porque Vós nos amais, desejais ser amado por nós. Ajudai-me, pois, a expelir do meu coração todos os afetos que não são para Vós: fazei que eu não ame outra coisa senão a Vós e nada mais deseje senão cumprir a vossa vontade. Ó vontade de Deus, vós sois o meu amor. Ó Maria, minha mãe, impetrai-me a graça de não querer outra coisa senão o que Deus quer.

MEDITAÇÃO.


JESUS NA CRUZ.
Jesus na cruz. Eis a prova do amor de um Deus. Eis a última aparição que o Verbo encarnado fez sobre a terra - aparição de dor, mais ainda de amor. São Francisco de Paula, contemplando um dia o amor divino na pessoa de Jesus crucificado e entrando em êxtase, exclamou três vezes: "Ó Deus caridade! Ó Deus caridade! Ó Deus caridade", querendo com isso significar que não podemos compreender quão grande foi o amor de Deus para conosco, para querer morrer por nosso amor.

Ó meu querido Jesus, se vos contemplo exteriormente nessa cruz, nada mais vejo senão chagas e sangue. Se, porém, observo o vosso Coração, encontro-o todo aflito e triste. Leio nessa cruz que Vós sois rei, mas qual a insígnia de rei que ainda tendes? Eu não vejo outro sólio real senão esse madeiro de opróbrio, não vejo outra púrpura, senão a vossa carne dilacerada e ensanguentada; outra coroa senão esse feixe de espinhos que vos atormentam. Ah, tudo isso, porém, vos consagra como Rei de amor, sim, porque essa cruz, esses cravos, essa coroa e essas chagas são insígnias de amor. 

Jesus do alto da cruz não nos pede tanto compaixão como nossos afetos, e se procura compaixão, busca-a unicamente para que ela nos mova a amá-lo. Ele, por ser a bondade infinita, já merece todo o nosso amor; mas, posto na cruz, procura que o amemos ao menor por compaixão. Ah, meu Jesus, quem não vos há de amar, se vos reconhece pelo Deus que sois a vos contempla na cruz?  Oh, que setas de fogo Vós disparais sobre as almas desse trono de amor! Oh, quanto corações atraístes a Vós dessa mesma cruz! Ó chagas de meu Jesus, ó belas fornalhas de amor, recebei-me no meio de Vós, para que me abrase, não já no fogo do inferno por mim merecido, mas nas santas chamas de amor por aquele Deus que consumido de tormentos quis morrer por mim. Meu caro Redentor, recebei um pecador que, arrependido de vos ter ofendido, vos deseja amar sinceramente. Eu vos amo, bondade infinita; eu vos amo, amor infinito. Ouve-me, ó meu Jesus, eu vos amo, eu vos amo, eu vos amo. Ó Maria, ó Mãe do Amor Formoso, impetrai-me maios amor, para que me consuma de amor por esse Deus que morreu consumido de amor por mim.

MEDITAÇÃO:

JESUS É PREGADO NA CRUZ

"Chegando ao lugar chamado Caveira, lá o crucificaram, bem como aos malfeitores, uma à direita e outro a esquerda".

Apenas chegou o Redentor ao Calvário, triturado de dores e fadigado, arrancam-lhes as vestes já pegadas às suas carnes dilaceradas e arremessam-no sobre a cruz. Jesus estende seus sagrados braços e ao mesmo tempo oferece ao eterno Pai o sacrifício de sua vida, rogando-lhe que o aceite pela salvação dos homens. Os carrascos toma então com fúria os cravos e os martelos e, atravessando-lhe aos pés e as mãos, pregam-no na cruz. Ó mãos sagradas, que só com o vosso contacto curastes tantos enfermos, por que vos pregam nessa cruz? Ó pés santos, que tanto vos cansastes para nos buscar a nós, ovelhas desgarradas, por que vos atravessam com tanta crueldade? Quanto se fere um nervo do corpo humano, é tão aguda a dor, que ocasiona espasmos e delíquios. Ora, quão grande terá sido de Jesus, quando lhe foram atravessados os pés e as mãos, cheios de nervos e músculos, pelos duros cravos! Ó meu doce Salvador, tanto vos custou o desejo de ver-me salvo e de conquistar o meu amor e eu, ingrato, tantas vezes desprezei o vosso amor por um nada; agora, porém, o estimo acima de todos os bens.

Levantam a cruz com o Crucificado e fazem-no cair com violência no buraco feito no rochedo. Esse buraco é em seguida entupido com pedras e madeira, e Jesus fica pendente na cruz, para aí consumar sua vida. Estando Jesus já agonizando naquele leito de dores e achando-se tão abandonado e triste, procura quem o console, mas não encontra. Ao menos terão compaixão de Vós, ó meu Senhor, os homens que vos veem morrer? Pelo contrário; vejo que uns vos injuriam, outros zombam de Vós; estes blasfemam, aqueles vos escarnecem, dizendo: Se és Filho de Deus, desce da cruz (...) Ele salvou outros, a si mesmo não se pode salvar (Mt 27, 40-42). Ai bárbaros, Ele já está a expirar como desejais; ao menos não o atormenteis com as vossas zombarias. Vê quanto padece naquele patíbulo o rei teu Redentor. Cada membro sofre o seu tormento e um não pode aliviar o outro. A cada momento Ele experimenta penas mortais. Pode-se dizer que durante aqueles três horas que Jesus agonizou na cruz, Ele sofreu tantas mortes quantos foram os momentos que aí passou. Não encontra na cruz o mínimo alívio ou repouso. Se se apoia nas mãos ou nos pés, aumenta a dor, já que seu Corpo sacrossanto está pendente dessas mesmas chagas. Corre, minha alma, e chega-te enternecida a essa cruz, beija esse altar, sobre o qual morre como vítima de amor por ti o teu Senhor. Coloca-te debaixo de seus pés e deixar que caia sobre ti aquele sangue divino. Sim, meu caro Jesus, que esse sangue me lave de todos os meus pecados e me inflame todo em amor para convosco, meu Deus, que quisestes morrer por meu amor. Ó Mãe das Dores, que estais ao pé da cruz, rogai a Jesus por mim. 

MEDITAÇÃO.


JESUS É CONDENADO POR PILATOS.
Pilatos, depois de haver tantas vezes declarado a inocência de Jesus, mais uma vez a proclama, protestado se Ele inocente do sangue daquele justo, e contudo pronunciou a sentença e o condenou à morte. Oh, injustiça nunca vista no mundo! Ao mesmo tempo que o juiz declara inocente o acusado, ele o condena. Ah, meu Jesus, Vós não mereceis a morte, mas eu a mereço. Visto, porém, que quereis satisfazer por mim, não é Pilatos, mas é o vosso próprio Pai que vos condena a pagar a pena a mim devida. Eu vos amo, ó Pai Eterno, que condenais vosso Filho inocente para livrar-me a mim que sou réu. Eu vos amo, ó Filho eterno, que a aceitais a morte devida e um pecador.

Pilatos, tendo condenado a Jesus, entrega-o às mãos dos judeus, para que façam com Ele o que desejavam: Abandonou Jesus ao arbítrio deles (Lc 23,25). É de fato o que acontece: quando se condena um inocente, não se limita à pena, sendo ele abandonado às mãos dos inimigos, para que o façam padecer e morrer como lhes aprouver. Pobres judeus, vós então pedistes o castigo, dizendo: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos (Mt 27,25). E o castigo já veio! Desgraçados, sofreis e haveis de sofrer até o fim do mundo o castigo desse sangue inocente. Ó meu Jesus, tende piedade de mim, que com minhas culpas também motivei a vossa morte. Não quero ficar obstinado como os judeus, quero chorar os maus-tratos que vos dei e amar-vos sempre, sempre, sempre.

Eis que se lê diante do Senhor a injustiça sentença, condenando-o à morte da cruz. Ele a ouve, e, inteiramente submisso à vontade do Pai, obediente a aceita com toda a humildade: Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz (Fl 2,8). Pilatos na Terra diz: "Morra Jesus!. E o Filho responde por sua vez: "Eis-me aqui. Eu obedeço e aceito a morte, e a morte da cruz". Meu amado Redentor, Vós aceitais a morte que me é devida. Seja bendita a vossa misericórdia para sempre: eu vos agradeço sumamente. Mas visto que Vós, inocente, aceitais a morte da cruz por mim, eu, pecador, aceito a morte que me destinardes com todos os sofrimentos que a acompanharem e desde já a uno à vossa morte e o ofereço a vosso eterno Pai. Vós morrestes por meu amor, e eu quero morrer por amor de Vós. Pelos merecimentos de vossa santa morte, fazei-me morrer na vossa graça e abrasado no vosso santo amor. Maria, minha esperança, recordai-vos de mim.

MEDITAÇÃO.


PILATOS MOSTRA JESUS AO POVO:
Tendo sido Jesus conduzido novamente à presença de Pilatos, este, vendo-o todo dilacerado e deformado pelos açoites e espinhos, julgou poder incitar a compaixão do povo, mostrando-lhe Jesus. Por isso, saiu para fora, até o pórtico ou alpendre, levando consigo Jesus, e disse: Eis aqui o homem, como se dissesse.: "Vede, ainda não estais contentes com o que padeceu este pobre inocente? Ei-lo reduzido a um estado em que não poderá mais viver. Deixai-o, pois, em paz, pois pouco tempo lhe restará de vida". Contempla tu também, minha alma, o teu Senhor sobre aquele pórtico, como ele está amarrado e seminu, coberto todo de chagas e de sangue, e reflete a que estado está reduzido o teu pastor para salvar-te a ti, ovelha desgarrada.

No mesmo tempo em que Pilatos mostra aos judeus Jesus coberto de chagas, o Pai Eterno no Céu nos convida a contemplar Jesus em tal estado e nos diz igualmente: Eis aqui o homem. "Homens, esse homem, que vedes tão chegado e desprezado é o meu Filho muito amado, que para pagar por vossos pecados padece tanto: contemplai-o e amai-o". Meu Deus e meu Pai, eu contemplo o vosso Filho e lhe agradeço e o amo e espero amá-lo sempre. Suplico-vos, porém, que o contempleis também e pelo amor deste vosso Filho tende piedade de mim, perdoai-me e dai-me a graça de não amar senão a Vós.

Que respondem, porém, os judeus à vista deste rei de dores? Fazem uma grande gritaria e dizem: Crucifica-o, crucifica-o! E vendo que Pilatos, apesar de seus insultos, procurava libertá-lo, aterrorizam-no dizendo: Se soltas este, não és amigo de César (Jo 19,12). Pilatos resiste ainda uma vez e replica: Pois eu hei de crucificar o vosso rei? E eles responderam: Não temos rei, senão César. Ah, meu adorado Jesus, eles não querem vos conhecer por seu rei e afirmam que não querem outro rei senão César. Eu vos reconheço por meu Rei e protesto que não quero outro rei para o meu coração senão Vós, meu amor e meu único bem. Infeliz de mim. Também eu vos desconheci por algum tempo como meu Rei e protestei não querer servi-vos. Agora, porém, quero que só Vos domineis sobre minha vontade. Fazei que ela obedeça a tudo o que ordenardes. Ó vontade de Deus, Vós sois o meu amor. Ó Maria, rogai por mim, pois as vossas súplicas nunca são desatendidas.

MEDITAÇÃO.


JESUS É COROADO DE ESPINHOS.

"Os soldados tecendo uma coroa de espinhos, puseram-se em sua cabeça e jogaram sobre ele um mano de púrpura".
João 19, 2).

Depois de terem os soldados flagelados a Jesus Cristo, reuniram-se todos no pretório e, despojando-o novamente de suas vestes, para escarnecer dele e torná-lo um rei de comédia, puseram-lhe sobre os ombros um manto velho de cor vermelha, para representar a púrpura real, e na mão uma cana significando o cetro, e na cabeça um feixe de espinhos parodiando a coroa, que lhe envolvia toda a sagrada cabeça.  E visto que os espinhos com a força das mão não se cravavam na sua divina cabeça, toma-lhe a cana e e enterram-lhe na cabeça aquela horrenda coroa: Cuspindo-lhe, tomavam a cana e batiam-lhe com ela na cabeça. (Mt 27,30). Ós espinhos ingratos, assim atormentais o vosso Criador? Mas que espinhos, que espinhos! Vós, maus pensamentos meus, vós traspassastes a cabeça de meu Redentor. Detesto, ó meu Jesus, e aborreço mais que a morte aqueles perversos consentimentos com que tantas vezes vos desgostei a Vós, meu Deus t]ao bom e misericordioso. Mas já que me fazeis conhecer quanto me tendes amado, quer amar-vos a Vós somente e nada mais.

Ó Deus, já escorre a fio o sangue dessa cabeça ferida sobre a face e o peito de Jesus, e Vós, meu Salvador, nem sequer vos lamentais de tão injusta crueldade! Vós sois o Rei do Céu e da Terra, mas agora estais reduzido ao papel de um rei de burla e de dores, feito o ludíbrio de toda a Jerusalém. Devia, porém, realizar-se a profecia de Jeremias: Oferecerá a faze ao que o fere; farta-se-á de opróbrios (Lm 3,30). Jesus, meu amor, eu vos desprezei pelo passado, mas agora eu vos estimo e vos amo com todo o meu coração e desejo morrer por vosso amor.

Mas esses homens não estão ainda satisfeitos com os tormentos e escárnios a quem vos sujeitaram. Depois de vos haver assim atormentado e tratado como rei de teatro, ajoelhavam-se diante de vós e zombando vos diziam: "Salve, ó rei dos judeus". E davam-lhe bofetadas (Mt 27,29). Aproxima-te ao menos tu, minha alma, e reconhece Jesus como o Rei dos reis e o Senhor dos senhores e agradece-lhe e ama-o, porque se fez, por teu amor, rei das dores. Ah, meu Senhor, esquecei-vos dos desgostos que vos dei. Agora eu vos amo mais que a mim mesmo. Só Vós mereceis todo o meu amor e por isso só a Vós eu quero amar. Tenho medo de minha fraqueza, mas Vós me dareis força para executá-lo. E vós, ó Maria, ajudar-me-eis com as vossas súplicas.

MEDITAÇÃO


JESUS É FLAGELADO.
Pilatos tomou então e mandou-o flagelar (Jo 19,1). Ó juiz injusto, tu o declarastes inocente e em seguida o condenas a um castigo tão cruel como vergonhoso? Contempla, minha alma, como, depois dessa ordem iníqua, os carrascos se apoderam do cordeiro divino, conduzem-nos ao pretório e o amarram com cordas a uma coluna. Ó cordas bem-aventuradas, vós que prendestes àquela coluna as mãos de meu doce Redentor, prendei também a seu coração divino o meu miserável coração, para que de hoje em diante eu não busque e não queira outra coisa senão o que Ele quer.

Eis que já toma nas mãos os azorragues e, dado o sinal, começam a rasgar aquelas carnes sacrossantas de alto a baixo: primeiramente mostram-se lívidas e depois esguicham sangue de todos os pontos. Os azorragues e as mãos dos carrascos já estão tintos de sangue e a própria terra está toda banhada. Ó Deus, pela violência dos golpes, voam pelos ares não só o sangue, mas até pedaços de carne de Jesus Cristo. Seu corpo divino já está todo dilacerado, mas aqueles bárbaros continuam a acrescentar feridas a feridas, dores e dores. Entretanto, que faz Jesus? Ele não se lamenta, mas sofre pacientemente aquele horrível tormento para aplacar a justiça divina irada contra nós. Como um cordeiro sem voz diante do que o tosquia, assim ele não abriu a sua boca (At 8,32; cf. Is 53,7). Corre, minha alma, e lava-te nesse sangue divino. Meu amado Senhor, eu vos vejo todo dilacerado por mim; não posso, pois, duvidar mais de que Vós me amais e me amais muito. Cada chaga vossa é uma prova evidente de vosso amor, que com muita razão pede o meu amor. Vós me dais o vosso Sangue sem reserva, ó meu Jesus; é justo que eu também vos dê o meu coração sem reserva. Recebei-o  pois, e fazei que eu vos seja sempre fiel.

Ó Deus, se Jesus Cristo não tivesse sofrido senão um só golpe por meu amor, já deveria abrasar-me de amor por Ele, pensando: um Deus quis ser ferido por mim! Ele, porém, não se contentou com um só golpe, mas, para pagar por meus pecados, quis que lhe fossem dilacerados todos os membros, como já predissera Isaías: Foi despedaçado por causa dos nosso crimes (Is 53,5), e torna-se semelhante a um leproso coberto de chagas dos pés até à cabeça: E nós o reputamos como um leproso. Minha alma, enquanto Jesus era flagelado pensava em ti e oferecia a Deus seus acerbos martírios para livrar-te dos flagelos eternos do inferno. Ó Deus de amor, como pude eu viver tantos anos sem vos amar! Ó chagas de Jesus, feri-me de amor para com Deus que tanto me amou. Ó Maria, Mãe da Graça, alcançai-me este amor!

MEDITAÇÃO DE HOJE.


A VONTADE DE DEUS É A NOSSA SANTIFICAÇÃO.
Os desejos Santos são as asas que nos fazem alçar voo da terra; pois, como diz São Lourenço, o santo desejo "supre a força, e torna mais leve a dor": por um lado, dá-nos a força de caminhar rumo è perfeição e, por outro, alivia a pena do caminho. Quem verdadeiramente deseja a perfeição não deixa jamais de procurar avançar na sua direção; e se nunca deixa de fazê-lo, um dia a alcançará. Diz Santo Agostinho que, nas sendas de Deus o não avança significa retroceder: "Não progredir é regredir". Encontrar-se-á sempre na retaguarda quem não se esforça para ir adiante, e será carregado pela correnteza da nossa natureza corrompida. 

É, pois, um grande erro o que dizem alguns: Deus não quer que todos sejam santos. Não, diz São Paulo: Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação (1Ts 4,3). Deus quer que todos sejam santos, e cada um na sua ocupação: o religioso como religioso, o secular, o sacerdote como sacerdote, o casado como casado, o comerciante como comerciante, o soldado como soldado, e assim por diante em todos as outras condições. São belíssimas os documentos que sobre esta matéria nos dá minha grande advogada Santa Teresa. Em certo momento ela diz: "Sejam os nossos pensamentos elevados, porque deles virá o nosso bem". Noutra passagem diz: "Não é preciso vilificar os desejos, mas confiar em Deus, porque, se nos esforçarmos, pouco a pouco poderemos chegar aonde chegaram muitos santos com a divina graça". E em confirmação disso ela testemunhava ter a experiência de que as pessoas animosas em pouco tempo haviam progredido grandemente: "Porque", dizia, "o Senhor de tal forma se compraz com os desejos, como se já houvessem sido executados". Noutra instância diz: "Deus não faz muitos favores marcantes, senão a quem muito desejou o seu amor". Diz, ademais, noutra passagem: "Deus não deixa de recompensar todo o bom desejo nesta vida, visto que é amigo das almas generosas, ainda que estas duvidem de si mesmas". De um tal espírito generoso era dotada a Santa; donde chegou certa vez a dizer ao Senhor que, se no Paraíso visse outros desfrutar mais do que ela própria, não se importaria com isso; mas, se encontrasse que o amasses mais do que ela, dizia não saber como poderia suportar.

MEDITAÇÃO.


JESUS É CONDUZIDO A PILATOS E A HERODES.

"Chegada a manhã, todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo convocaram um conselho contra Jesus, a fim de lavá-lo à morte. Assim amarrando-o levaram-no e entregaram-no a Pilatos, o governador.

Chegada a manhã, conduzem Jesus a Pilatos, para que o condene à morte; Pilatos, porém, descobre que Jesus é inocente e por isso diz aos judeus que não encontrava motivo para condená-lo. Como, porém, os vê obstinados em quere a sua morte, o remete ao tribunal de Herodes. Este, tendo diante de si Jesus, desejava vê-lo operar um dos muitos milagres de que tanto falavam. O Senhor, porém, nem sequer respondeu às interrogações daquele temerário. Pobre da alma à qual Deus nada mais diz! Meu Redentor, era isso o que eu merecia, por não haver obedecido a tantos chamados vossos. Mas, ó meu Jesus, Vós não me haveis abandonado ainda. Falai-me, pois. Fala, Senhor, porque o teu servo ouve (I Sm 3,9), dizei-me o que desejais de mim, que eu quero tudo o que vos agradar.

Vendo Herodes que Jesus não lhe dava resposta, despeitando o expulsou de sua casa, zombando dele com todo o pessoal da sua corte, e4 para maior desprezo o revestiu com uma veste branca, querendo assim designá-lo como louco, remetendo-o em seguida a Pilatos. E assim é Jesus levado pelas ruas de Jerusalém, revestido com aquela veste de escárnio. Ó meu Jesus desprezado, faltava-vos ainda essa injúria de ser tratado como louco! Ora, se a sabedoria eterna é assim tratada pelo mundo, bem-aventurado é aqueles que não se importa com os aplausos do mundo e não quer saber de outra coisa senão Jesus Crucificado, amando as dores e desprezos, exclamando com o Apóstolo: Julguei que não devia saber coisa alguma entre vós senão a Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado (I Cor 2,2).

Os judeus tinham o direito de exigir do governador romano, na festa da Páscoa, a libertação de um réu. Por isso, Pilatos perguntou ao povo qual dos dois queria, Jesus ou Barrabás. Barrabás era um celerado, homicida, ladrão, odiado por todos. Jesus era inocente. Os judeus, porém, gritam que viva Barrabás e morra Jesus. Ah, meu Jesus, eu também assim falei quando deliberei ofender-vos por uma satisfação qualquer, tendo preterido a Vós qualquer gosto miserável, e para não perdê-lo não me importei com perder a Vós, bem infinito. Mas agora eu vos amo acima de qualquer outro bem, mais que à minha vida. Tender piedade de mim, ó Deus de misericórdia. E vós, ó Maria, sede minha advogada.

MEDITAÇÃO


JESUS É PRESO E AMARRADO.

"E, imediatamente, enquanto ainda falava, chegou Judas, uma dos Doze, com uma multidão trazendo espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes, escribas e anciãos. O seu traidor dera-lhes uma senha, dizendo: É aquele que eu beijar. Prendei-o e levai-o bem guardado. Tão logo chegou, aproximando-se dele. disse: Rabi! E o beijou. Eles lançaram a mão sobre ele e o prenderam.".
Marcos 14, 43-46.

Levantai-vos, vamos; eis que se aproxima o que me há de entregar (Mc 14,42). Sabendo o Redentor que Judas, juntamente com os judeus e soldados que o vinham prender, já estava perto, levanta-se ainda banhado no suor da morte. E com o rosto pálido, mas com o Coração tão inflamado em amor, vai ao seu encontro para entregar-se em suas mãos, e, vendo-os reunidos, pergunta-lhes: A quem buscais? (Jo 18,4). 
Imagina, minha alma, que Jesus te pergunta do mesmo modo: "Dize-me, a quem buscas? Ah, meu Senhor, a quem eu procuro senão a Vós, que viestes do Céu à Terra em busca de mim, para que não perdesse? Prenderam Jesus e ataram-no. Ó Céus, um Deus amarrado! Que diríamos, se víssemos um rei preso e acorrentado por seus criados?! E que devemos dizer então, vendo um Deus entregue às mãos da gentalha? Ó cordas felizes, Vós que ligastes o meu Redentor, predei-me também a Ele, mas prendei-me de tal modo que eu não posso separar-me mais de seu amor; prendei o meu coração à sua vontade santíssima, para que de agora em diante não queria nada mais senão o que Ele quer.

Contempla, minha alma, como uns lhe põe as mãos, outros o ligam, estes o injuriam, aqueles nele batem, e o Cordeiro inocente de deixa atar e esbofetear à vontade deles. Não procura fugir de suas mãos, não pode auxílio, não se queixa de tantas injúrias, não pergunta por que o maltratam assim. Eis realizada a profecia de Isaías: Foi oferecido (em sacrifício), porque ele mesmo o quis, e não abriu a sua boca como uma ovelha que é levada ao matadouro (Is 53,7). Não fala e não se lamenta, porque Ele mesmo já se oferecera à justiça para satisfazer e morrer por nós, e assim deixou-se conduzir à morte qual ovelha - sem abrir a boca. Olha como, preso e circundado por aquele populacho, é arrastado do horto e conduzido às pressas ao pontífices na cidade. E onde estão seus discípulos? Que fazem? Se, não podendo livrá-los das mãos de seus inimigos, ao menos o acompanhassem para defender sua inocência diante dos juízes, ou então para consolá-lo com sua presença! Mas não o Evangelho diz: Então os seus discípulos, abandonando-o, fugiram todos (Mc 14,50). Que dor não sentiu então Jesus, vendo-se abandonado e deixado até por aqueles que lhe eram caros! Jesus viu então todas as almas que, mais favorecidas por Ele, deveriam depois abandoná-lo e voltar-lhe ingratamente as costas. Ah, meu Senhor, minha alma foi uma dessas infelizes que, depois de tantas graças, luzes e convites recebidos de Vós, esqueceram-se ingratamente de Vós e vos abandonaram. Recebei-me, por piedade, agora que arrependido e contrito a Vós me volto para não vos deixar mais, ó tesouro, á vida, ó amor de minha alma.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

MEDITAÇÃO.


A AGONIA DE JESUS NO HORTO.
Depois do canto dos salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. (...) Então foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsâmani (Mt 26, 30.36). Tendo feito a ação de graças depois da ceia, Jesus deixa o cenáculo com seus discípulos, entra no Horto de Getsêmani e põe-se a orar; mal, porém, começa a ora, assaltam-no ao mesmo tempo um grande temor, um grande aborrecimento e uma grande tristeza: Começou a sentir pavor e angústia, diz São Marcos (Mc 14,33) E São Mateus ajunta: Começou a entristecer-se e angustiar-se (Mt 26,37). Oprimido por essa tristeza, nosso Redentor diz que sua alma está aflita até a morte. Passou-lhe então diante dos olhos toda a cena funesta dos tormentos e dos opróbrios que lhe estavam preparados. Esses tormentos o oprimiram durante sua Paixão cada um por sua vez, sucessivamente, mas aqui no horto todos juntos e ao mesmo tempo o afligiram, as bofetadas, os escarros, os flagelos, os espinhos, os cravos e os vitupérios que teria de sofrer depois. Jesus os abraça todos juntos, mas, aceitando-as, sua tristeza treme, agoniza e ora: Posto em agonia, orava mais instantemente (Lc 22,43). Mas, ó meu Jesus, quem vos obriga a sofrer tantas penas? "É o amor que tenho aos homens", responde Jesus. Oh, como o Céu terá pasmado vendo a fortaleza tornar-se fraca, a alegria do Paraíso se entristecer. Um Deus aflito! E por quê? para salvar os homens, suas criaturas. Naquele horto se consumou o primeiro sacrifício: Jesus foi a vítima, o amor foi o sacerdote, e o ardor de seu afeto para com os homens foi o fogo bem-aventurado que consumia o sacrifício.

Meu Pai, se é possível, passe de mim esse cálice! (Mt 26,39). Assim suplica Jesus. Ele, porém, assim suplica não tanto para ver-se livre como para nos fazer compreender a pena que sofre e aceita por nosso amor. Suplica também assim para nos ensinar que nas tribulações podemos pedir a Deus que no livre delas, mas, ao mesmo tempo, devemos em tudo nos conformar com sua divina vontade e dizer como Ele: Todavia, não se faça com eu quero, mas sim como tu queres. E durante todo o tempo repetiu a mesma petição: Faça-se a tua vontade (...) e orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Sim, meu Senhor, abraço por vosso amor todas as cruzes que quiserdes enviar-me. Vós inocentemente tanto sofrestes por meu amor e eu, pecador, depois de haver merecido tantas vezes o inferno, recusarei sofrer para vos comprazer e alcançar de Vós o perdão e a vossa graça? Não seja feita a minha vontade, mas a vossa. 

MEDITAÇÃO.


UNIÃO DA ALMA COM JESUS NA SANTA COMUNHÃO.
O que come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu hoje (Jo 6,56). São Dionísio Areopagita diz que o amor tende sempre à união com o objeto amado. E porque, a comida se faz uma só coisa com quem a toma, por isso Nosso Senhor quis fazer-se comida, para que nós, recebendo-o na santa comunhão, nos tornássemos uma só coisa com ele: Tomai e comei: isto é meu corpo (Mt 25,26). Como se quisesse dizer, assevera São João Crisóstomo: "Comei-me, para que nos tornemos um só ser", alimenta-te de mim, ó homem, para que de mim e de ti se faça uma só coisa.

Assim como dois pedaços de cera derretidos, diz São Cirilo de Alexandria, se misturam e confundem, da mesma forma uma alma que comunga se une de tal maneira a Jesus que Jesus está nela e ela em Jesus. "Ó meu amado Redentor", exclama São Lourenço Justiniano, "como pudestes chegar a amar-nos tanto e de tal modo unir-vos a nós, que do vosso Coração e do nosso não se fizesse senão um só coração?". Tinha, pois, razão São Francisco de Sales de dizer, falando da santa comunhão: "O Salvador não pode ser considerado em nenhum outro mistério nem mais amável nem mais terno que neste, no qual se aniquila, por assim dizer, e se reduz a comida para penetrar em nossas almas e unir-se ao coração de seus fiéis". E assim, diz São João Crisóstomo, nós nos unimos e nos tornamos um corpo e e uma carne com Aquele em quem os anjos não ousam fixar seus olhares. Que pastor, ajunta o santo, alimenta duas ovelhas com seu próprio sangue? Mesmo as mães dão seus filhos e amas estranhas. Jesus, porém, nesse sacramento nos alimenta com o seu próprio Sangue e une-se a nós. Em suma, Ele quer fazer-se nosso alimento e uma mesma coisa conosco, porque nos amava ardentemente.

Ó amor infinito, digno de um infinito amor, quando vos amarei, ó meu Jesus, como Vós me amastes? Ó alimento divino, ó sacramento de amor, quando me atraireis todo a Vós? Não podeis fazer mais para vos fazerdes amar por mim. Eu quero sempre começar a amar-vos, prometo-vos sempre, mas nunca o começo Quero começar hoje a amar-vos deveras. Ajudai-me, inflamai-me, desprendei-me da Terra e não permitais que eu continue a resistir a tantas finezas de vosso amor. Eu vos amo de todo o coração, e por isso quero tudo abandonar para com comprazer, minha vida, meu amor, meu tudo. Quero unir-me muitas vezes convosco neste sacramento, para desprender-me de tudo e amar somente a Vós, meu Deus. Espero de vossa bondade poder executá-lo com o vosso auxílio. 

MEDITAÇÃO DE HOJE.


DO AMOR DE DEUS
Deus não se limitou a dar-nos todas essas formosas criaturas do universo, mas não viu satisfeito o seu amor enquanto não veio a dar a si próprio por nós (cf. Gl 2,20). O maldito pecado nos fez perder a graça divina e o Céu, tornando-nos escravos do demônio. Mas o Filho de Deus, com espanto do Céu e da terra, quis vir a este mundo, fazer-se homem pra remir-nos da morte eterna e reconquistar-nos a graça e o Paraíso perdido. Que maravilha seria ver um poderoso monarca tomar a forma e a natureza de um verme por amor aos homens. "Humilhou-se a si mesmo, tomando a forma de servo (...) e reduzindo-se à condição de homem" (Fl 2,7). Um Deus revestido de carne mortal! E o Verbo se fez carne (cf. Jo 1,14). Mas o prodígio ainda aumenta, quando se considera o que fez e sofreu depois por nosso amor esse Filho de Deus. Para nos remir, era bastante uma só gota de seu Sangue preciosíssimo, uma só lágrima, uma só súplica, porque esta oração, sendo um ato de pessoa divina, teria infinito valor e era suficiente para resgatar não só um mundo, mas uma infinidade de mundos que houvesse. Observa, entretanto, São João Crisóstomo que aquilo que bastava para resgatar-nos não era bastante para satisfazer o imenso que Deus nos tinha. Não queria unicamente salvar-nos, mas que muito o amássemos, porque Ele muito nos amava. Escolheu vida de trabalhos e de humilhações e a morte mais amargurada entre todas as mortes, a fim de nos fazer compreender o infinito e ardentíssimo amor em que ardia por nós. "Humilhou-se a si mesmo, fez-se obediente até à morte e morte de cruz" (Fl 2,8). Ó excesso de amor divino, que nunca os anjos nem os homens chegarão a compreender! Digo excesso, porque é exatamente assim que se exprimiam Moisés e Elias no Tabor, falando da Paixão de Cristo (cf. Lc 9,31). "Excesso de dor, excesso de amor", disse São Boaventura.

Se o redentor não tivesse sido Deus, mas simplesmente um parente ou amigo, que maior prova de afeto nos poderia dar do que morrer por nós? "Ninguém tem amor em maior grau do que ele, porque dá a vida por seus amigos" (Jo 15,13). Se Jesus Cristo tivesse de salvar seu próprio pai, que mais poderia ter feito por amor dele? Se tu, meu irmão, fosses Deus e Criador de Jesus Cristo, que mais poderia fazer por ti além de sacrificar sua vida num abismo de humilhações e de dores? Se o mais vil dos homens deste mundo tivesse feito por ti o que fez o Redentor, poderias viver sem o amar? Crês na Encarnação e na morte de Jesus Cristo? Crês e não o amas? Podes sequer pensar em outras coisas que não sejam Jesus Cristo? Duvidas, talvez, do Seu amor? O Divino Salvador, diz Santo Agostinho, veio ao mundo para sofrer e morrer por vós, a fim de vos patentear o amor que vos tem. Antes da Encarnação o homem, talvez, poderia pôr em dúvida que Deus o amasse ternamente; mas, depois da Encarnação e morte de Jesus Cristo, quem pode duvidá-lo? Que prova mais evidente e terna podia dar-nos do seu amor do que sacrificar a sua vida por nós? Estamos habituados a ouvir falar de Criação e redenção, de um Deus que nasce num presépio e morre numa cruz. Ó santa fé, ilumina nossas almas!

sábado, 12 de abril de 2025

MEDITAÇÃO DE HOJE.

 

AS DORES DO SENHOR NA CRUZ.

Diz Santo Agostinho não haver morte mais acerba que a morte da cruz, pois, como nota São Tomás, os crucificados têm os pés e as mãos transpassados, partes essas que sendo compotas de nervos, músculos e veias, são extremamente sensíveis à dor, e o só peso do corpo pendido faz que a dor seja contínua e se aumente sempre mais até à morte. Mas as dores de Jesus ultrapassavam todas as outras dores, pois, como diz o Angélico, o corpo de Jesus Cristo, sendo de delicadíssima compleição, era mais sensíveis e sujeito às dores: corpo que foi expressamente preparado pelo Espírito Santo para sofrer como Ele predissera e conforme o atesta o Apóstolo: Formaste-me um corpo (Hb 10,5). Além disso, São Tomaz diz que Jesus Cristo suportou uma dor tamanha que só ele seria suficiente para satisfazer a pena que mereciam temporariamente os pecados de todos os homens. Afirma Tiepoli que na crucifixão deram 28 marteladas sobre suas mãos e 26 sobre seus pés.

Minha alma, contempla o teu Senhor, contempla tua vida que pende desse madeiro: E a tua vida estará como suspensa diante de ti (Dt 28,66). Vê como naquela patíbulo doloroso, suspenso desses cravos cruéis, não encontra posição nem repouso. Ora se apoia sobre as mãos, ora sobre os pés, mas onde se firma aumenta a dor. Ora volve a dolorosa cabeça para uma parte, ora para outra, se a deixar cair sobre o peito, as mãos e os pés rasgam-se mais com o peso, se a deita sobre os ombros, estes ficam feridos pelos espinhos; se a apoia sobre a Cruz, enterram-se os espinhos ainda mais na sua cabeça. Ah, meu Jesus, que morte horrível é a que sofreis! Meu Redentor crucificado, e vos adoro nesse trono de ignomínia e de dores. Leio que está escrito nessa cruz que sois Rei: Jesus Nazareno, rei do judeus (Jo 19,19). Mas afora este título de escárnio, qual outro sinal de vossa realeza? Ah, essas mãos cravadas, essa cabeça coroada de espinhos, esse trono de dores, essas carnes dilaceradas vos fazem conhecer por Rei, mas Rei de Amor. Aproximo-me, pois humilhado e contrito, para beijar vossos pés sagrados trespassados por meu amor, abraço essa cruz, na qual, vítima de amor, quisestes sacrificar-vos à justiça divina por mim, feito obediente até à morte, e morte de cruz (Fl 2,8). Ó feliz obediência, que no obtém o perdão dos pecados. E que seria de mim, ó meu Salvador, se Vós não tivésseis pago por mim? Agradeço-vos, meu amor, e pelos merecimentos dessa sublime obediência vos peço que me concedais a graça de obedecer em tudo à vossa divina vontade. Desejo o Paraíso unicamente para sempre Vos amar e com todas as minhas forças.  

sexta-feira, 11 de abril de 2025

MEDITAÇÃO DE HOJE


A CRUCIFICAÇÃO DO SENHOR.

Eis-nos chegados à Crucificação, ao último tormento, o qual deu a morte a Jesus Cristo - eis-me no Calvário, feito teatro do amor divino, onde um Deus deixa a vida num mar de dores. Quando chegaram ao lugar que se chama Calvário, ali o crucificaram (Lc 23,33). Tendo o Senhor chegado com grande dificuldade, mas ainda vivo ao monte, arrancaram-lhe pela terceira vez com violência suas vestes pegadas às chagas de sua carne dilacerada e o estenderam sobre a Cruz. O Cordeiro Divino deita-se sobre esse leito de tormentos, apresenta aos carnífices suas mãos e seus pés para serem pregados e, levantando os olhos ao céu, oferece ao seu eterno Pai o grande sacrifício de sua vida pela salvação dos homens. Cravada uma má, contraem-se os nervos, sendo por isso necessário que à forma e com cordas se puxassem a outra mão e os pés ao lugar dos cravos, com foi revelado a Santa Brígida, o que ocasionou a contorção e rompimento com dores horríveis do nervos e das veias, de tal maneira que se podiam contar todos os ossos, como já predissera Davi: Transpassaram as minhas mãos e os meus pés, contaram todos os meus ossos (Sl 21,17).

Ah, meu Jesus, por quem foram cravados vossas mãos e vossos pés sobre esse madeiro senão pelo amor que tínheis aos homens? Vós quisestes com a cor de vossas mãos transpassadas pagar todos os pecados que os homens cometeram pelo tato, e com a dor dos pés quisestes pagar todos os passos que demos para vos ofender. Ó meu amor crucificado, abençoai-me com essas mãos transpassadas. Cravai aos vosso pés este meu coração ingrato para que eu não me separa mais de Vós e fique sempre minha vontade obrigada a amar-vos, já que tantas vezes se rebelou contra Vós. Fazei que nada me mova além de vosso amor e do desejo de dar-vos gosto. Ainda que vos veja suspenso nesse patíbulo, eu vos reconheço por Senhor do mundo, pelo Filho verdadeiro Deus e Salvador dos homens. Por piedade, ó meu Jesus, não me abandoneis mais no resto de minha vida e especialmente na hora de minha morte: nessa última agonia e combate com o Inferno, assisti-me e confortai-me para morrer no vosso amor. Eu vos amo, amor crucificado, eu vos amo de todo o meu coração.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

MEDITAÇÃO DE HOJE.


"AMA E FAZE O QUE QUERES"

Diz Santo Agostinho: "Ama e faze o que queres", ama a Deus e faze o que quiseres. Quem ama verdadeiramente a Deus, não anda à procura de outra coisa senão o gosto de Deus, e só nisto acha o seu contendo, em fazer gosto a Deus. Escreve Santa Teresa: "Quem busca somente o contentamento do seu dileto, contenta-se com tudo o que satisfaz ao dileto. Esta força o amor tem quando é perfeito, de fazer a pessoa esquecer-se de toda satisfação e vantagem própria e faz que todo o seu pensamento se dirija a fazer gosto ao seu dileto e a buscar um modo para honrá-lo perante se e perante os outros. Ó Senhor, todo o dano provém de não mantermos os olhos fixos em vós! Se olhássemos somente para o caminho, logo chagaríamos. mas caímos e tropeçamos mil vezes, e também nos desviamos da rota, por não olharmos atentamente para o verdadeiro caminho". Eis, portanto, qual dever ser o único objetivo de todos os nosso pensamentos, das ações, dos desejos e das nossas orações, o gosto de Deus. e este dever ser o nosso caminho para a perfeição, o caminhar de acordo com a vontade de Deus.

Deus quer que cada um de nós o ame de todo o coração: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração. (MT 22,37). A alma que ama a Jesus Cristo de todo o coração, e que lhe diz de coração sincero aquilo que lhe disse o Apóstolo: Senhor, o que queres que eu faça? (At 9,6): Senhor, mostrai-me o que quereis de mim, que eu o quero fazer por completo. E entendamos que, quando queremos aquilo que Deus quer, queremos o nosso maior bem: porque certamente Deus só que o melhor para nós. Dizia São Vicente de Paula: "A conformidade com a vontade divina é o tesouro do cristão e o remédio para todos os males; pois ela contém a negação de si e a união com Deus e com todas as virtudes". Eis, em suma, onde se encontra toda a perfeição: Senhor, o que queres que eu faça? Promete-nos Jesus Cristo: Mas não se perderá um cabelo da vossa cabeça (Lc 21,18). Quer dizer que o Senhor nos repaga todo o bom pensamento que temos de fazer-lhe gosto a toda a tributação que abraçamos com paz, conformando-nos à Sua santa vontade. Dizia Santa Teresa: "O Senhor nunca manda uma tribulação sem recompensá-la com algum favor, sempre que a aceitamos com resignação".

Mas a nossa conformidade com a vontade divina tem de ser inteira, sem reservas, e constantes, sem hesitação. Nisso consiste o cúmulo da perfeição, e para isso, repito, devem-se voltar todas as nossas orações. Algumas almas de oração, ao ler sobre os êxtases e raptos de Santa Teresa, de São Filipe Néri e de outros santos, são induzidas a alcançar essas uniões sobrenaturais. Tais desejos devem ser eliminados, porque são contrários à humildade; se quisermos fazer-nos santos, devemos desejar a verdadeira união com Deus, que consiste em unir totalmente a nossa vontade com a de Deus. Escreve Santa Teresa: "Enganam-se os que creem que a união com Deus consiste em êxtases, raptos e gozos junto a Ele. Não consiste noutra coisa senão no assujeitamneto da nossa vontade à vontade de Deus; e então essa sujeição será perfeita quando a nossa vontade estiver despegada de tudo, e unicamente unida à de Deus, de forma que todo o seu movimento seja somente o querer divino. Essa é a verdadeira e essencial união que sempre desejei e peço continuamente ao Senhor". E depois acrescenta: "Oh, quantos de nós não dizemos isso e nos parece que desejamos apenas isso; mas, pobre de nós, quão poucos somos os que aí chegamos!". E essa é a verdade: muitos dizemos: Senhor, dou-vos toda a minha vontade, não quero nada além do que quereis vós; mas, quando depois nos acontecem as contrariedades, não sabemos aquietar-nos com a vontade divina. E aqui nasce aquele queixar-se de ter má sorte neste mundo, e o dizer que todas as desgraças são as nossas, e a levar uma vida infeliz.  

terça-feira, 8 de abril de 2025

MEDITAÇÃO DE HOJE.


DOS NUMEROSOS PECADOS.

"Filho, pecaste? Não tornes a pecar; mas roga pelas culpas antigas, a fim de que te sejam perdoadas" (Eclo 21,1). Assim te adverte, ó cristão, Nosso Senhor, porque deseja salvar-te. "Não me ofendas, filho, novamente, mas pede perdão dos pecados cometidos." Quanto mais tiveres ofendido a Deus, meu irmão, tanto mais deves temer a reincidência em ofendê-lo, porque talvez mais um pecado que cometeres fará pender a balança da justiça divina, e serás condenado. Falando absolutamente, não quero dizer, porque não o sei, que não haja perdão se cometeres novo pecado; afirmo, porém, que isto pode acontecer.

Porque conseguinte, quando te assaltar a tentação, deves considerar: quem sabe se Deus me perdoará outra vez ou ficarei condenado?
Dize-me, por favor: provarias uma comida que supusesses estar provavelmente envenenada? Se presumisses fundamento que em determinado caminho estavam teus inimigos à espreita para matar-te, passarias por ali, podendo tomar outra via mais segura? 
Do mesmo modo, que certeza ou que probabilidade podes ter de que, tornando a pecar, sentirás logo verdadeira contrição e não voltarás à culpa detestável? Ou ainda, se novamente pecares, não te fará Deus morrer no próprio ato do pecado ou te abandonará depois da queda? Ao comprar uma casa, tomas prudentemente as necessárias precauções para não perderes teu dinheiro. Se vais usar algum remédio, procurarás certificar-te que não te possa fazer mal. Ao atravessar um rio, evitas o perigo de cair nele. E, por um vil prazer, por um deleite brutal, arriscas tua salvação eterna dizendo "eu me confessarei". Mas, pergunto eu: quando te confessarás? - No domingo. - E quem te assegura que no domingo estarás vivi? - Amanhã mesmo. E quem te afiança esse dia de amanhã, quando não sabes sequer se tens ainda uma boa hora de vida? "Tendes um dia", diz Santo Agostinho, "quando não tendes certeza de uma hora?". "Deus", prossegue o mesmo santo, "promete o perdão ao que se arrepende, não promete o dia de amanhã a quem o ofende". Se agora pecares, Deus talvez te dará tempo de fazer penitência, ou talvez não. E se não te der, que será de ti eternamente? E, não obstante, queres perder tua alma por um mísero prazer e a expões ao perigo da perdição eterna.

Arriscarias mil ducados por essa vil satisfação? Digo mais: darias tudo, fazenda, casa, poder, liberdade e vida, por um breve gosto ilícito? Não, sem dúvida. E, contudo, por esse mesmo indigno prazer, queres perder tudo: Deus, a alma e o céu. Dize-me, pois: as coisas que ensina a fé são verdades altíssimas, ou não passam de puras fábulas que haja Céu, Inferno e eternidade? Crês que se a morte te surpreender em pecado estarás perdido para sempre? Que temeridade, que loucura, condenares a ti mesmo às penas eternas com a vã esperança de remediá-la mais tarde! "Ninguém que enfermar com a esperança de curar-se", diz Santo Agostinho. Não teríamos por louco a quem bebesse veneno dizendo "depois por meio de um remédio me salvarei"? E tu queres a condenação à morte eterna, fiado em que talvez mais tarde possas livra-te dela? Loucura terrível, que tantas almas tem levado e leva ao Inferno, segundo a ameaça do Senhor! "Pecaste confiado temerariamente na misericórdia divina; mas o castigo virá de improviso sobre ti, sem que saibas donde vem" (Is 47,10-11).