Depois do canto dos salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. (...) Então foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsâmani (Mt 26, 30.36). Tendo feito a ação de graças depois da ceia, Jesus deixa o cenáculo com seus discípulos, entra no Horto de Getsêmani e põe-se a orar; mal, porém, começa a ora, assaltam-no ao mesmo tempo um grande temor, um grande aborrecimento e uma grande tristeza: Começou a sentir pavor e angústia, diz São Marcos (Mc 14,33) E São Mateus ajunta: Começou a entristecer-se e angustiar-se (Mt 26,37). Oprimido por essa tristeza, nosso Redentor diz que sua alma está aflita até a morte. Passou-lhe então diante dos olhos toda a cena funesta dos tormentos e dos opróbrios que lhe estavam preparados. Esses tormentos o oprimiram durante sua Paixão cada um por sua vez, sucessivamente, mas aqui no horto todos juntos e ao mesmo tempo o afligiram, as bofetadas, os escarros, os flagelos, os espinhos, os cravos e os vitupérios que teria de sofrer depois. Jesus os abraça todos juntos, mas, aceitando-as, sua tristeza treme, agoniza e ora: Posto em agonia, orava mais instantemente (Lc 22,43). Mas, ó meu Jesus, quem vos obriga a sofrer tantas penas? "É o amor que tenho aos homens", responde Jesus. Oh, como o Céu terá pasmado vendo a fortaleza tornar-se fraca, a alegria do Paraíso se entristecer. Um Deus aflito! E por quê? para salvar os homens, suas criaturas. Naquele horto se consumou o primeiro sacrifício: Jesus foi a vítima, o amor foi o sacerdote, e o ardor de seu afeto para com os homens foi o fogo bem-aventurado que consumia o sacrifício.
Meu Pai, se é possível, passe de mim esse cálice! (Mt 26,39). Assim suplica Jesus. Ele, porém, assim suplica não tanto para ver-se livre como para nos fazer compreender a pena que sofre e aceita por nosso amor. Suplica também assim para nos ensinar que nas tribulações podemos pedir a Deus que no livre delas, mas, ao mesmo tempo, devemos em tudo nos conformar com sua divina vontade e dizer como Ele: Todavia, não se faça com eu quero, mas sim como tu queres. E durante todo o tempo repetiu a mesma petição: Faça-se a tua vontade (...) e orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Sim, meu Senhor, abraço por vosso amor todas as cruzes que quiserdes enviar-me. Vós inocentemente tanto sofrestes por meu amor e eu, pecador, depois de haver merecido tantas vezes o inferno, recusarei sofrer para vos comprazer e alcançar de Vós o perdão e a vossa graça? Não seja feita a minha vontade, mas a vossa.
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