Muitos são chamados à perfeição, são impulsionados a ela peal graça, adquirem o desejo dela; mas, porque depois não se decidem, vivem e morrem na podridão de sua vida tépida e imperfeita. Não basta o desejo da perfeição, se ainda não há a firme resolução de consegui-la. Quantas almas não se alimentam somente de desejos, sem jamais dar um passo na senda de Deus! Estes são os desejos de que fala o Sábio: Os desejos mata o preguiçoso (Pr 21,25). O preguiçoso sempre deseja, e não se decide nunca a fazer uso dos meios próprios do seu estado para tornar-se santo. Diz: Oh, se eu estivesse num deserto, e não nesta casa! Oh! se pudesse ir viver noutro mosteiro, entregar-me-ia todo a Deus! E, ao mesmo tempo não pode suportar aquele colega, não pode ouvir uma palavra de contradição, dissipa-se entre muitos cuidados inúteis, comete mil faltas de falatório, de curiosidade e de soberba: e depois suspira ao vento: Oh se eu tivesse, oh se eu pudesse, etc. Tais desejos trazem mas estragos que proveito; porque alguns se nutrem deles e, mesmo assim, vivem e seguem vivendo imperfeitos. Dizia São Francisco de Sales: "Eu não aprovo que uma pessoa ligada a alguma obrigação ou vocação se ponha a desejar outro tipo de vida que não aquele que é conveniente ao seu ofício, nem outros exercícios incompatíveis ao seu estado presente, porque isso distrai o seu coração e o faz perder o vigor nos exercícios necessários".
É necessário, pois, desejar a perfeição e resolutamente lançar mão dos meios para alcançá-la. Escreve Santa Teresa: "Deus não que de nós mais que uma resolução, para depois fazer Ele mesmo tudo da Sua parte. De almas irresolutas o demônio não tem medo". A isso serve a oração mental, para acionar aqueles meios que nos conduzem à perfeição. Há aqueles que muito oram, mas com sua oração nunca alcançam nada. Dizia a mesma santa: "Eu prefiro uma oração breve que produza grande efeitos, àquele de muitos anos em que a alma não termina de se decidir a fazer algo de valor por Deus". E noutra passagem diz: "Eu sei por experiência própria que quem a princípio se esforça por decidir fazer algo, por difícil que seja, se o fizer para agradar a Deus, não haverá o que temer".
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