Queria o profeta Isaías que fossem manifestas a todos as maneiras amorosas que Deus encontrou para ser amado pelos homens. E quem jamais teria conseguido pensar, se ele próprio o não tivesse feito, que o Verbo Encarnado se teria colocado sob a espécie de pão para fazer-nos nosso alimento? Não parece uma loucura, dia Santo Agostinho, dizer: Comei da minha carne, bebei do meu sangue? Nonne Insania videtur dicere: Manducate mean carnem, bibite meum sanguinem? Quando Jesus Cristo revelou aos seus discípulos este sacramento que queria deixar-nos, eles não conseguiram crer-lhe e se dispensaram de segui-lo, dizendo: "Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?" (Jo 6,52). "Isto é muito duro! Quem o pode admitir?" (Jo 6,60). Mas o que os homens não podiam pensar nem crer, pensou-o e fê-lo o grande amor de Jesus Cristo. Accipite et manducate ("tomai e comei") disse Ele aos discípulos, e por meio deles a todos nós, antes de ir morrer. Tomai e comei! Mas que alimento será este, ó Salvador do mundo, que antes de morrer quisestes regalar-nos? Accipite et manducate: hoc est corpus meum (I Cor 11,24). "Este alimento não é terreno: sou eu mesmo que me dou a todos vós".
E, oh, com que desejo Jesus Cristo anseia por vir às nossas almas na santa comunhão! Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa (Lc 22,15). Assim disse ele na noite em que instituiu este sacramento de amor. Desiderio desoderavi; assim o fez falar, escreve São Lourenço Justiniano, o amor imenso que nos tinha: "Estas palavras de amor são muitíssimo ardentes". E, fim de que todos pudessem facilmente recebê-lo, quis sujeitar-se sob a espécie do pão.
Caso tivesse transubstanciado sob a espécie de algum alimento raro ou de grande preço, os pobres teriam sido privados d'Ele; mas não, Jesus quis pôr-se sob a espécie do pão, que custa pouco e se acha em toda a parte, para que todos em todos os lugares possam encontrá-los e recebê-lo. A fim de nos incutir o desejo de recebê-lo. A fim de nos incutir o desejo de recebê-lo na santa comunhão, não apenas nos exorta a tanto com tantos convites: Vinde comer o meu pão e beber o vinho que preparei (Pr 9,5); amigos, comei e bebei, falando deste pão e vinho celeste (Ct 5,1), mas também no-lo impõe por preceito: Tomai dele e deste comei: este é meu corpo (I Cor 11,24). Ademais, para que o busquemos, seduz-nos com a promessa do Paraíso: O quie come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna (Jo 6,55). O que come deste pão viverá eternamente (v. 58). Também nos ameaça com o Inferno e a exclusão do Paraíso se nos recusarmos a comungar. Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós (v. 54). Esses convites, essas promessas essas ameaças nascem todos do grande desejo que Nosso Senhor tem de vir até nós neste sacramento.
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