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sábado, 5 de abril de 2025

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA.

SÁBADO DA 4º SEMANDA DA QUARESMA

O MODO MAIS CONVENIENTE PARA A LIBERAÇÃO DO GÊNERO HUMANOS.

Tanto um meio é mais conveniente para conseguir um fim, quanto mais ele faz concorrerem elementos conducentes ao fim. Ora, o ser o homem liberado pela paixão de Cristo foi causa de concorrerem muitos elementos conducentes à salvação do mesmo, além da liberação do pecado.

1. Assim, primeiro, desse modo o homem conhece quanto Deus o ama; o que o excita a amá-lo mais, e nisso consiste a perfeição da salvação humana. Donde o dizer o Apóstolo: "Deus faz brilhar a sua caridade em nós, porque ainda quando éramos pecadores, morreu Cristo por nós" (Rm 5, 8).

2. Segundo, porque por esse meio nos deu o exemplo da obediência, da humildade, da constância, da justiça e das demais virtudes, reveladas na paixão de Cristo e que são necessárias à salvação humana. Por isso diz a Escritura (1 Pd 2, 21): "Cristo padeceu por nós, deixando-vos exemplo para que sigais as suas pisadas".

3. Terceiro, porque Cristo, com sua paixão, não somente liberou o homem do pecado, mas ainda lhe mereceu a graça justificante e a glória da beatitude.

4. Quarto, porque, assim, uma necessidade maior impôs ao homem conservar-se imune do pecado, segundo aquilo do Apóstolo (1 Cor 6, 20): "Porque vós fostes comprado por um grande preço; glorificai, pois, e trazei a Deus no vosso corpo".

5. Quinto, porque contribuiu para maior dignidade do homem, de modo que assim como fora vencido e enganado pelo diabo, assim também fosse ele mesmo quem vencesse o diabo; e assim como o homem mereceu a morte, assim também, morrendo, a vencesse a ela, conforme o dizer do Apóstolo (1 Cor 15, 57): "Graças a Deus, que nos deu a vitória, por Jesus Cristo".

Por isso foi mais conveniente que, pela paixão de Cristo fossemos liberados, do que pela só vontade de Deus.

MEDITAÇÃO DE HOJE.


VOSSA TRISTEZA HÁ DE CONVERTE-SE EM ALEGRIA. (Jo 16,20).

Procuremos sofrer com paciência as aflições da vida presente, oferecendo-as a Deus, em união com as dores que Jesus Cristo sofreu por nosso amor e alentando-nos com a esperança da glória. Esses trabalhos, penas, angústias, perseguições e temores hão de acabar um dia e, se nos salvamos, serão pra nós motivos de gozo e alegria inefável no reino dos bem-aventurados. É o próprio Senhor que nos anima e consola: "Vossa tristeza há de converter-se em alegria" (Jo 16,20).

Meditemos, portanto, sobre a felicidade da glória. Mas que diremos desta felicidade, quando nem os santos mais inspirados souberam dar uma ideia acertada das delícias que Deus reserva aos que o amam? Davi apenas soube dizer que a glória é o bem infinitamente desejável (cf. Sl 83,2). E tu, insigne São Paulo, que tiveste a dita de ser arrebatado ao Céu, dize-nos alguma coisa ao menos do que viste ali! "Não", respondeu o grande apóstolo, "o que vi não é possível exprimir". Tão sublimes são as delícias da glória, que não pode compreendê-las quem não as desfruta (II Cor 12,9). Tudo o que posso dizer, é que ninguém nesta terra viu, nem ouviu, nem compreendeu as belezas, as harmonias e os prazeres que Deus preparou para aqueles que o amam (cf. I Cor. 2,9).
Neste mundo não somos capazes de imaginar os bens do Céu, porque só formamos ideia do que o mundo nos apresenta. Se, por maravilha excepecional, um ser irracional fosse dotado de razão e soubesse que um rico senhor ia celebrar esplêndido banquete, imaginaria que o repasto haveria de ser o melhor e o mais seleto, mas semelhante ao que ele usa, porque não poderia conceber nada melhor como alimento. Assim acontece conosco relativamente aos bens da glória.

Quanto é belo contemplar, em serena noite de verão, a magnificência do firmamento recamado de estrelas! Quão agradável é admirar as águas tranquilas de um lago transparente, em cujo fundo se descobrem peixes a nadar e pedras cobertas de musgo! Quanta formosura num jardim cheio de flores e de frutos, circundando de fontes e riachos, matizado por lindo passarinhos, que cruzam o ar e o alegram com seu canto mavioso! Dir-se-ia que tantas belezas são o Paraíso... mas não! Muito diferentes são os gozos e a formosura do Paraíso. Para dele fazermos uma vaga ideia, consideremos que ali está Deus onipotente, enchendo de delícias inenarráveis as almas que Ele ama. "Quereis saber que é o Céu?", dizia São Bernardo, "pois sabeis que ali não há nada que desagrade, e existe todo bem que deleita".

Que dirá a alma quando entrar naquela mansão felicíssima? Imaginemos um jovem ou uma virgem, que, tendo consagrado toda a vida ao amor e ao serviço de Cristo, acaba de morre e deixar este vale de lágrimas. Sua alam apresentar-se ao juízo; o Juiz a acolhe com bondade e lhe declara que está salva. O anjo da guarda a acompanha e felicita, e ela lhe mostra sua gratidão pela assistência que recebeu dele.
"Vem, pois, alma querida, diz-lhe o anjo; regozija-te porque estás salva. Vem contemplar a face do Senhor!"
E a alma se eleva, transpõe as nuvens, passa além das estrelas, e entra no Céu... Meu Deus! Que sentirá a alma ao penetrar, pela primeira vez, naquele reino de venturas e vir aquela cidade de Deus insuperável em formosura?

sexta-feira, 4 de abril de 2025

QUARESMA NÃO PODE SER SUBSTITUÍDA PELA CAMPANHA DA FRATERNIDADE, DIZ DOM ODILO


Na quaresma, são essenciais "a penitência unida à busca sincera de Deus, a escuta atenta e a acolhida da Palavra de Deus, a recordação dos mandamentos, dos fundamentos da fé e da moral, cristãs, o incentivo à caridade concreta e a exortação à confissão sacramental", disse o arcebispo de São Paulo (SP), dom Odilo Pedro Scherer, sobre aqueles que reduzem a quaresma à Campanha da Fraternidade.

Para Dom Odilo, há mal entendidos sobre a Campanha da Fraternidade que eleva um divisão entre os que a rejeitam e os que a transformam no único foco da Quaresma. "Nem uma coisa, nem outra é boa", disse. 

"A campanha da Fraternidade não deveria ser vista como uma atividade paralela à Quaresma, nem, muito menos, como iniciativa substitutiva da Quaresma, mas nela inserida", disse.

"A fé cristã é adesão pessoa a Deus e a moral é a expressão da vida decorrente da fé".

Na Quaresma, a Igreja convida "à penitência para uma sincera e profunda conversão a Deus".

"Para isso, ela indica os exercícios quaresmais do jejum, da oração e da esmola", que deveria ajudar-nos a fazer uma profunda avaliação de nossa vida, predispondo-os à busca do perdão de Deus e à renovação dos compromissos batismais na celebração da Páscoa".

"Na noite da Páscoa, como conclusão dos exercícios quaresmais é feita a renovação das promessas batismais, pelas quais reafirmamos nossa 'renúncia a Satanás' e nossa adesão a Deus, mediante a profissão da fé católica. Que significado teria isso, se não fosse precedido de um sério esforço de revisão de vida, em todos os sentidos, do arrependimento dos pecados e da disposição de nos voltarmos para Deus de todo coração?".

A conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB promove desde 1964 a Campanha da Fraternidade no Tempo da Quaresma. Segundo o cardeal "o objetivo fundamental dela é promover a fraternidade (caridade) em alguma questão da convivência social. Ela sempre propõe um tema que faz refletir sobre a vivência da fraternidade, a justiça e a caridade, valores essenciais no Evangelho de Cristo".

Segundo o cardeal "a fé cristã é adesão pessoal a Deus e a moral é a expressão da vida decorrente da fé", mas "não pode ser vividas de maneira abstrata e desencarnada, fora da realidade que nos cerca".

"Os verdadeiros Santos deram-nos o exemplo: sua fé profunda em Deus e a moral do Evangelho que viviam levaram-nos sempre a uma sensibilidade especial em relação aos sofrimentos do próximo e aos problemas sociais".

"A igreja foi enviada em missão ao mundo não apenas para "salvar almas", mas para salvar pessoas, que têm corpos e vivem situações específicas, para se envolver com seus sofrimentos e necessidades e para anunciar o Evangelho da salvação, que inclui o cuidado das pessoas neste mundo e tem implicações na convivência social. Foi o que o próprio Jesus fez o tempo todo", concluiu.
Por: Nathália Queiroz.

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA.

SEXTA-FEIRA DA 4ª SEMANA DA QUARESMA.

O PRECIOSÍSSIMO SANGUE DE NOSSO SENHOR.

I. Pelo sangue de Cristo, foi selado o Novo Testamento. "Este cálice é o novo testamento no meu sangue" (1Cor 11,25).

Testamento compreende-se de dois modos:
- A palavra "testamento" é comumente utilizada para significar algum pacto. Assim, Deus fez por duas vezes pactos com o gênero humano. Na primeira vez, prometendo bens temporais e livrando-nos dos males temporais; e este pacto é chamado Antigo Testamento. Na segunda vez, prometendo bens espirituais e livrando-nos dos males contrários; e este pacto é chamado Novo Testamento. Tudo isso conforme as Escrituras: "Estão a chegar os dias, diz o Senhor, em que farei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá, diferente da aliança que fiz com seus pais do Egito (...) Eis a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Imprimirei a minha lei no seu íntimo, escrevê-la-ei nos seus corações; serei o seu Deus e eles serão o meu povo" (Jr 31, 33).

Os antigos costumavam fundir o sangue de uma vítima para selar um pacto, Moisés tomou sangue e o aspergiu sobre o povo, dizendo: Este é o sangue da aliança que o Senhor firmou convosco. Assim, portanto, o antigo testamento ou pacto foi selado no sangue de touros; o Novo Testamento ou pacto, no sangue de Cristo, vertido em sua Paixão.

- A palavra "testamento" também é utilizada, de modo mais estrito, para significar a disposição de uma herança. Ora, o testamento, nesta acepção, não é recebido senão pela morte; pois, como diz são Paulo: "o testamento só produz seu efeito em caso de morte, não tendo força enquanto vive o testador" (Heb 9, 17). Deus inicialmente dispusera para uma herança eterna, mas, sob a figura dos bens temporais; o que constitui o Antigo Testamento. Mas, em seguida, fez um Novo Testamento, pelo qual prometeu expressamente a herança eterna; e este Testamento foi selado pelo sangue da morte de Cristo. E é por isso que disse o Senhor: "Este cálice é o Novo Testamento em meu sangue, que será derramado por vós" (Lc 22, 20); como para dizer: pelo conteúdo deste cálice, celebra-se o Novo Testamento, confirmado pelo sangue de Cristo.

II. Existem outras utilidades do sangue de Cristo.

1. Purifica-nos de nossos pecados e imundices: "nos amou e nos lavou dos nossos pecados no seu sangue" (Ap 1,5).

2. Garante nossa redenção. "nos resgataste para Deus com o teu sangue" (Ap 5, 9).

3. Pacifica-nos com Deus e os anjos. "pacificando, pelo sangue da sua cruz, tanto as coisas da terra como as coisas do céu" (Cl 1, 20).

4. Refrigera e inebria os que o tomam. "Bebei dele todos" (Mt 26, 28). E, noutra parte,"Levou-o às alturas da terra... e ele bebeu o mais puro sangue da uva" (Dt 32, 14).

5. Abriu as portas do céu. "Portanto, Irmãos, tendo nós confiança de entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Cristo" (Heb 10, 19), i. é, a oração contínua dirigida a Deus em nosso proveito; pois o sangue clama a cada dia por nós, como diz são Paulo: "Vós porém aproximaste-vos do monte de Sião e da cidade de Deus vivo... e da aspersão daquele sangue que fala melhor que o de Abel" (Heb 12, 24). O sangue de Abel clamou por vingança, o de de Cristo, por perdão.

6. Libertou os santos do inferno, conforme aquilo das Escrituras: "Quanto a ti, também, por causa do sangue da tua aliança, farei sair os teus cativos da fossa em que não há água". (Zc 9, 11).

MEDITAÇÃO DE HOJE.


DIVINA EUCARISTIA: O SACRAMENTO DO AMOR.

Sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo ao Pai, tendo amado os seus, (...) amou-os até o fim (Jo 13,1). Nosso amantíssimo Redentor, na última noite de sua vida, sabendo que já era chegado o tempo suspirado de morrer por amor dos homens, não teve ânimo de nos deixar sós neste vale de lágrimas; e para não se separar de nós nem mesmo depois de sua morte, quis deixar-nos todo em alimento no sacramento do altar. Com isto nos deu a entender que, depois desse dom infinito, não tinha mais o que dar-nos para nos testemunhar o seu amor. Cornélio a Lápide, com S. João Crisóstomo e Teofilato, explica, segundo o texto grego, a palavra "até o fim" e escreve: "É como se dissesse: amou-os com um amor supremo e sem limites". Jesus neste sacramento fez o último esforço de amor para o homem, como diz Abade Guerrico.

Essa ideia foi ainda mais bem expressa pelo sagrado Concílio de Trento, que, falando do sacramento do altar, disse que nele nosso Salvador derramou, por assim dizer, todas as riquezas de seu amor para conosco. Tinha, pois, razão São Tomás de Aquino de chamar este sacramento de sacramento de amor e o maior penhor de amor que Deus nos podia dar. E São Bernardo o chamava "amor dos amores". Santa Maria Madalena de Pazzi dizia que uma alma depois de comungar pode exclamar: "Tudo está consumado", já que o meu Deus, tendo-se dado todo a mim nesta comunhão, nada mais tem para comunicar-me. Uma vez perguntou esta santa, a uma de suas noviças, em que havia pensado depois da comunhão. Respondeu-lhe a noviça: No amor de Jesus. Sim, replicou então a santa, quando se pensa no amor, não se pode ir mais avante, antes é preciso deter-se nele. Ó Salvador do mundo, que pretendeis dos homens, deixando-os levar e dar-lhes com alimento o vosso próprio ser? E que mais vos resta dar-nos, depois deste sacramento, para nos obrigar a vos amar? Ah, meu Deus amantíssimo, iluminai-me para que conheça qual foi o excesso de bondade que vos reduziu a vos fazerdes meu alimento na santa comunhão! Se, pois, vos destes inteiramente a mim, é justo que eu também me dê todo a vós. Sim, Jesus, eu me dou todo a vós, vos amo acima de todos os bens e desejo receber-vos para vos amar ainda mais. Vinde,. sim, vinde muita vezes à minha alma e fazei-a toda vossa. Ah, se eu pudesse dizer em verdade, como São Felipe Neri, ao receber a comunhão em viático: "Eis aí o meu amor, eis aí o meu amor, dai-me o meu amor".     

quinta-feira, 3 de abril de 2025

SÉRIE SANTOS CASADOS.

A Santidade no matrimônio ao longo dos séculos.
Imagem ilustrativa*

SANTA PLECTRUDA e PEPINO DE HERSTAL

Plectruda, reverenciada na Alsácia, Luxemburgo, e no Vale do Reno como santa esposa e mãe, e como fundadora de um convento, nasceu perto de Tréveris, filha do nobre franco Hugoberto e da Beata Irmina. Foi casada com Pepino de Herstal, prefeito do palácio franco, que venceu o prefeito Berchar da Nêustria em uma batalha na cidade francesa de Tertry (próximo a Saint-Quentin). Assim, como prefeito do palácio, ele iniciou a ascensão das carolíngios, garantiu a supremacia da Austrásia e uniu a França. Plectruda exercia muita influência sobre o marido, mas suas relações conjugais passaram por frequentes problemas, pois Pepino recusava-se a afastar-se de sua concubina, Alpaida, que deu-lhe um filho, Carlos Martel. Do matrimônio de Prectruda e Pepino nasceram dois filhos, Drogo e Grimoaldo, mas ambos morreram ainda crianças. Plectruda era piedosa e muita dedicada à igreja, e em 697-698 contribuiu imensamente para a fundação de um convento em Echternach (Luxemburgo) e outro em Kaiserswerth.

Após a morte de Pepino, em 714, a regência da viúva Plectudra passou a seu enteado, Carlos Martel, e ela foi para Colônia viver no convento feminino que havia fundado, de Santa Maria do Capitólio. Ali - certamente com muitas orações e penitências - encerrou a sua vida, em 10 de agosto de 125. 

Na Igreja de Santa Maria do Capitólio, em Colônia, o aniversário do falecimento de Plectruda foi desde o princípio celebrado como memorial da rainha Plectruda, fundadora desta igreja. Esta nobre mulher foi honrada como santa. 

* Não encontramos Imagens dos santos

HOLBÖCK, Ferdinand. Santos Casados: A santidade do matrimônio ao logo dos séculos. P. 68-69, RS: Minha Biblioteca Católica 2020.

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA.

QUINTA-FEIRA DA 4ª SEMANA DA QUARESMA.

A MORTE DE LÁZARO.

"Nosso amigo Lázaro dorme" (Jo 11,11).

I. Chamamos alguém de "Nosso amigo", por causa dos numerosos benefícios e serviços que nos prestou; é por isso que não devemos faltar-lhe na necessidade.

"...Lázaro dorme": essa a razão de precisarmos socorrê-lo. "Aquele que é amigo... torna-se um irmão no tempo da desventura" (Pr 17, 17). No dizer de santo Agostinho, ele dorme para o Senhor; para os homens, que não o podem ressuscitar, está morto.

A palavra sono pode ser utilizada para significar muitas coisas: o próprio sono natural, as negligências, o sono da culpa, o repouso da contemplação ou da glória futura e, por vezes, a morte, como diz são Paulo, "não queremos, irmãos, que estais na ignorância acerca dos que dormem, para que não vos entristeçais como os outros, que não têm esperança" (1 Ts 4, 13).

A morte é chamada de sono por causa da esperança da ressurreição. Por isso costuma-se chamá-la de "repouso" desde o tempo em que Nosso Senhor morreu e ressuscitou: "Deitei-me e adormeci" (Sl 3, 6).

II. "mas vou despertá-lo." Com isso, Jesus dá a entender que lhe é tão fácil ressuscitar Lázaro do túmulo quanto despertar alguém da cama. Nada que possa surpreender, pois é Ele quem suscita os mortos e os vivifica. Por isso disse: "Não vos admireis disso, porque virá tempo em que todos os que se encontram nos sepulcros escutarão a voz do Filho de Deus" (Jo 5, 28).

III. "vamos ter com ele". Brilha aqui a clemência de Deus, enquanto os homens, em estado de pecado e como mortos, não podem por si mesmos ir até Ele, é Ele quem os atrai, precedendo-lhes misericordiosamente, como aquilo das Escrituras: "Eu amei-te com amor eterno; por isso, mantive o meu favor para contigo" (Jr 31, 3).

IV. "Chegou, pois, Jesus, e encontrou-o já há quatro dias no sepulcro." Segundo santo Agostinho, Lázaro, morto há quatro dias, significa o pecador retido pela morte de um pecado quádruplo: o pecado original, o pecado contra a lei natural, o pecado atual contra a lei positiva, o pecado atual contra a lei do Evangelho e da graça.

Ou então, pode-se dizer que o primeiro dia é o pecado do coração, cf. "tirai de diante dos meus olhos a malícia dos vossos pensamentos" (Is 1, 16); o segundo, o pecado da língua, "Nenhuma palavra má saia da vossa boca" (Ef 4, 19); o terceiro, o pecado das obras, sobre o qual diz Isaías, "cessai de fazer o mal" (Is 1, 16); o quarto dia é o pecado dos hábitos maus. De qualquer modo que se exponha o texto, o Senhor cura por vezes os mortos de quatro dias, isto é, os que transgridem a lei do Evangelho e estão presos no hábito do pecado.

MEDITAÇÃO DE HOJE.



JESUS É TRANSPASSADO PELA LANÇA.

Vieram depois soldados e quebraram as penas dos dois ladrões. Quando chegaram a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as penas, e um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água (Jo 10,33-34). São Cipriano escreve que a lança atingiu diretamente o Coração de Jesus Cristo. O mesmo foi revelado a Santa Brígida, e isso se deduz de ter saído juntamente com o sangue também água do lado do Senhor, pois a lança, para atingir o Coração de Cristo, teve primeiro de romper o pericárdio, que envolve o coração todo. Santo Agostinho nota que São João escreveu "abriu", porque então se abriu no Coração do Senhor a porta da vida, da qual brotaram os sacramentos, que dão entrada à vida eterna.

Por isso é que se diz que o sangue e água saídos do lado de Jesus Cristo foram a figura dos sacramentos, pois a água é o símbolo do batismo, o primeiro dos sacramentos, e o Sangue se encontra na Eucaristia, o maior dos sacramentos. São Bernardo diz que Jesus com essa chaga visível queria tornar visível a chaga invisível do amor, da qual seu Coração estava ferido por nós: "Por isso foi vulnerado, para que pela chaga visível enxerguemos a chaga invisível do amor: a chaga carnal, portanto, demonstra a chaga espiritual". E conclui: "Quem, pois, deixará de amar esse coração tão chagado?". Santo Agostinho, falando da Eucaristia, diz que o santo sacrifício da Missa não é hoje menos eficaz perante Deus que o sangue e água saídos então do lado ferido de Jesus Cristo.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA

QUARTA-FEIRA DA 4ª SEMANA DA QUARESMA.

O AMIGO DIVINO

"Mandaram, pois, suas irmãs dizer a Jesus: Senhor, eis que está enfermo aquele que tua amas" (Jo 11,3).

Aqui há três coisas que se deve considerar:
a) A primeira é que os amigos de Deus por vezes padecem no corpo. Assim, não é sinal de falta de amizade com Deus o padecermos no corpo. Elifaz errava ao dizer a Jó, Lembra-te: que inocente pereceu jamais? ou quando foram os justos destruídos? (Jó 4, 7), como provam as irmãs de Lázaro: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas. Lemos no livros dos Provérbios (3, 12): O Senhor castiga aquele a quem ama, como um pai a seu f ilho querido.

b) A segunda é que elas não dizem: Senhor, vinde, curai-o, mas apenas expõem o seu estado: eis que está enfermo. O que significa que basta exprimir a um amigo as nossas necessidades, sem acrescenta pedido algum; pois um amigo, assim como procura seu próprio bem e combate seus males pessoais, combaterá os males de seu amigo. E isto é sobretudo verdadeiro de quem verdadeiramente ama. Diz o salmo (144, 20): O Senhor guarda todos os que o amam.

c) A terceira é que as duas irmãs, desejando a cura de seu irmão doente, não vêm pessoalmente ao Cristo, como o fizeram o paralítico e o centurião; e isso por causa de sua confiança em Jesus Cristo, em virtude 56 do amor especial e da familiaridade que lhes testemunhará. E talvez estivessem detidas pela dor, como disse são João Cristóstomo, em conformidade com aquilo do Eclesiástico (6, 11): Se o teu amigo perseverar firme, será para ti como um igual, tratará à vontade com os da tua casa.

MEDITAÇÃO DE HOJE.


A VIDA DOLOROSA DE NOSSO SENHOR.

Imagina, minha alma, que vês passar Jesus nesse doloroso caminho. Assim como um cordeiro é levado ao matadouro, o amantíssimo Redentor é conduzido à morte. Ele está tão esgotado e enfraquecido pelos tormentos, que apenas pode ter-se em pé. Ei-lo todo dilacerado pelas feridas, com a coroa de espinhos sobre a cabeça, com o pesado madeiro sobre os ombros e com algoz que puxa por uma corda. Caminha com o corpo curvado, com os joelhos trêmulos, gotejando sangue; anda com tanta dificuldade que parece que a cada passo vai exalar a vida. Pergunta-lhe: "Ó cordeiro divino, não estais ainda farto de dores? Se com isso pretendeis conquistar o meu amor, deixai de sofrer que eu quero amar-vos com desejais". "Não", responde-te, "ainda não estou satisfeito: só então estarei contende, quando estiver morto por teu amor". "E agora aonde ides, meu Jesus? "Vou morrer por ti, não mo impeças; uma só coisa eu pelo e recomendo: quando me vires morto sobre a Cruz por ti, recorda-te do amor que te dediquei; lembra-te disso e ama-me".

Ó meu aflito Senhor, quanto vos custou o fazer-me compreender o amor que me consagrastes. Que vantagem vos poderia trazer meu amor, que para conquistá-lo quisestes sacrificar vosso Sangue e a vida? E como pude eu, objeto de tão grande amor, viver tanto tempo sem vos amar, esquecido de vosso afeto? Agradeço-vos a lua que me dais agora e que faz conhecer o quanto me tendes amado. Eu vos amo, bondade infinita sobre todas as coisas; desejaria, se pudesse, sacrificar vos mil vidas, que quisestes sacrificar a vossa vida divina por mim. Concedei-me aqueles auxílios que me haveis merecido com tantas penas para vos amar de todo o coração. Dai-me aquele santo fogo que vieste acender na Terra, morrendo por nós. Recordai-me sempre da vossa morte, para que nunca mais me esqueça de vos amar.