TERÇA-FEIRA DA II SEMANA DA QUARESMA.
A PAIXÃO DE CRISTO CAUSOU A NOSSA SALVAÇÃO A MODO DE MÉRITO.
1. A Cristo foi dada a graça, não só como a uma pessoa singular, mas enquanto cabeça da Igreja, de modo que dele redundasse para os membros dela. Por isso as obras de Cristo estão para o mesmo e para as suas obras, assim como estão as obras de um homem constituído em graça para com ele próprio. Ora é manifesto que quem, constituído em graça sofre pela justiça, por isso mesmo merece para si a salvação, segundo a Escritura: "Bem aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça". Por onde, Cristo, pela sua paixão, mereceu a salvação não somente para si mas também para todos os seus membros. Em verdade, Cristo, desde o princípio da sua concepção, mereceu-nos a salvação eterna. Mas, de nosso lado, certos impedimentos constituíam um obstáculo a conseguirmos o efeito dos méritos precedentes. Por isso, a fim de remover esses impedimentos é que Cristo teve de sofrer.
E ainda que a caridade de Cristo não tenha aumentado mais na Paixão que antes, a Paixão de Cristo teve certo efeito que não tiveram os méritos precedentes; não por causa de uma caridade maior, mas pelo gênero da obra, que era concordante com esse efeito.
Os membros e a cabeça pertencem à mesma pessoa. Assim, uma vez que Cristo foi nossa cabeça pela divindade e plenitude de graça que redunda para os outros, e que nós somos os seus membros, seu mérito não nos é estranho, mas redunda em nós pela unidade do corpo místico.
2. Deve-se saber que, apesar de Cristo ter, por sua morte, merecido suficiente por todo o gênero humano, cada um deve procurar o remédio para sua própria salvação. A morte do Cristo é como uma causa universal de salvação, como o pecado do primeiro homem foi como uma causa universal de danação. Ora, é preciso que a causa universal seja aplicada a cada um especialmente, para que participe do efeito da causa universal.
Ora, o efeito do pecado dos nossos primeiros pais chega a cada indivíduo pela geração carnal; efeito da morte de Cristo, porém, pela regeneração, espiritual, em virtude da qual o homem é, de algum modo, unido e incorporado em Cristo. E, por isso, convém que cada um seja regenerado por Cristo, e que receba tudo por que opera a virtude da morte do Cristo.
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