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quinta-feira, 3 de abril de 2025

SÉRIE SANTOS CASADOS.

A Santidade no matrimônio ao longo dos séculos.
Imagem ilustrativa*

SANTA PLECTRUDA e PEPINO DE HERSTAL

Plectruda, reverenciada na Alsácia, Luxemburgo, e no Vale do Reno como santa esposa e mãe, e como fundadora de um convento, nasceu perto de Tréveris, filha do nobre franco Hugoberto e da Beata Irmina. Foi casada com Pepino de Herstal, prefeito do palácio franco, que venceu o prefeito Berchar da Nêustria em uma batalha na cidade francesa de Tertry (próximo a Saint-Quentin). Assim, como prefeito do palácio, ele iniciou a ascensão das carolíngios, garantiu a supremacia da Austrásia e uniu a França. Plectruda exercia muita influência sobre o marido, mas suas relações conjugais passaram por frequentes problemas, pois Pepino recusava-se a afastar-se de sua concubina, Alpaida, que deu-lhe um filho, Carlos Martel. Do matrimônio de Prectruda e Pepino nasceram dois filhos, Drogo e Grimoaldo, mas ambos morreram ainda crianças. Plectruda era piedosa e muita dedicada à igreja, e em 697-698 contribuiu imensamente para a fundação de um convento em Echternach (Luxemburgo) e outro em Kaiserswerth.

Após a morte de Pepino, em 714, a regência da viúva Plectudra passou a seu enteado, Carlos Martel, e ela foi para Colônia viver no convento feminino que havia fundado, de Santa Maria do Capitólio. Ali - certamente com muitas orações e penitências - encerrou a sua vida, em 10 de agosto de 125. 

Na Igreja de Santa Maria do Capitólio, em Colônia, o aniversário do falecimento de Plectruda foi desde o princípio celebrado como memorial da rainha Plectruda, fundadora desta igreja. Esta nobre mulher foi honrada como santa. 

* Não encontramos Imagens dos santos

HOLBÖCK, Ferdinand. Santos Casados: A santidade do matrimônio ao logo dos séculos. P. 68-69, RS: Minha Biblioteca Católica 2020.

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA.

QUINTA-FEIRA DA 4ª SEMANA DA QUARESMA.

A MORTE DE LÁZARO.

"Nosso amigo Lázaro dorme" (Jo 11,11).

I. Chamamos alguém de "Nosso amigo", por causa dos numerosos benefícios e serviços que nos prestou; é por isso que não devemos faltar-lhe na necessidade.

"...Lázaro dorme": essa a razão de precisarmos socorrê-lo. "Aquele que é amigo... torna-se um irmão no tempo da desventura" (Pr 17, 17). No dizer de santo Agostinho, ele dorme para o Senhor; para os homens, que não o podem ressuscitar, está morto.

A palavra sono pode ser utilizada para significar muitas coisas: o próprio sono natural, as negligências, o sono da culpa, o repouso da contemplação ou da glória futura e, por vezes, a morte, como diz são Paulo, "não queremos, irmãos, que estais na ignorância acerca dos que dormem, para que não vos entristeçais como os outros, que não têm esperança" (1 Ts 4, 13).

A morte é chamada de sono por causa da esperança da ressurreição. Por isso costuma-se chamá-la de "repouso" desde o tempo em que Nosso Senhor morreu e ressuscitou: "Deitei-me e adormeci" (Sl 3, 6).

II. "mas vou despertá-lo." Com isso, Jesus dá a entender que lhe é tão fácil ressuscitar Lázaro do túmulo quanto despertar alguém da cama. Nada que possa surpreender, pois é Ele quem suscita os mortos e os vivifica. Por isso disse: "Não vos admireis disso, porque virá tempo em que todos os que se encontram nos sepulcros escutarão a voz do Filho de Deus" (Jo 5, 28).

III. "vamos ter com ele". Brilha aqui a clemência de Deus, enquanto os homens, em estado de pecado e como mortos, não podem por si mesmos ir até Ele, é Ele quem os atrai, precedendo-lhes misericordiosamente, como aquilo das Escrituras: "Eu amei-te com amor eterno; por isso, mantive o meu favor para contigo" (Jr 31, 3).

IV. "Chegou, pois, Jesus, e encontrou-o já há quatro dias no sepulcro." Segundo santo Agostinho, Lázaro, morto há quatro dias, significa o pecador retido pela morte de um pecado quádruplo: o pecado original, o pecado contra a lei natural, o pecado atual contra a lei positiva, o pecado atual contra a lei do Evangelho e da graça.

Ou então, pode-se dizer que o primeiro dia é o pecado do coração, cf. "tirai de diante dos meus olhos a malícia dos vossos pensamentos" (Is 1, 16); o segundo, o pecado da língua, "Nenhuma palavra má saia da vossa boca" (Ef 4, 19); o terceiro, o pecado das obras, sobre o qual diz Isaías, "cessai de fazer o mal" (Is 1, 16); o quarto dia é o pecado dos hábitos maus. De qualquer modo que se exponha o texto, o Senhor cura por vezes os mortos de quatro dias, isto é, os que transgridem a lei do Evangelho e estão presos no hábito do pecado.

MEDITAÇÃO DE HOJE.



JESUS É TRANSPASSADO PELA LANÇA.

Vieram depois soldados e quebraram as penas dos dois ladrões. Quando chegaram a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as penas, e um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água (Jo 10,33-34). São Cipriano escreve que a lança atingiu diretamente o Coração de Jesus Cristo. O mesmo foi revelado a Santa Brígida, e isso se deduz de ter saído juntamente com o sangue também água do lado do Senhor, pois a lança, para atingir o Coração de Cristo, teve primeiro de romper o pericárdio, que envolve o coração todo. Santo Agostinho nota que São João escreveu "abriu", porque então se abriu no Coração do Senhor a porta da vida, da qual brotaram os sacramentos, que dão entrada à vida eterna.

Por isso é que se diz que o sangue e água saídos do lado de Jesus Cristo foram a figura dos sacramentos, pois a água é o símbolo do batismo, o primeiro dos sacramentos, e o Sangue se encontra na Eucaristia, o maior dos sacramentos. São Bernardo diz que Jesus com essa chaga visível queria tornar visível a chaga invisível do amor, da qual seu Coração estava ferido por nós: "Por isso foi vulnerado, para que pela chaga visível enxerguemos a chaga invisível do amor: a chaga carnal, portanto, demonstra a chaga espiritual". E conclui: "Quem, pois, deixará de amar esse coração tão chagado?". Santo Agostinho, falando da Eucaristia, diz que o santo sacrifício da Missa não é hoje menos eficaz perante Deus que o sangue e água saídos então do lado ferido de Jesus Cristo.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA

QUARTA-FEIRA DA 4ª SEMANA DA QUARESMA.

O AMIGO DIVINO

"Mandaram, pois, suas irmãs dizer a Jesus: Senhor, eis que está enfermo aquele que tua amas" (Jo 11,3).

Aqui há três coisas que se deve considerar:
a) A primeira é que os amigos de Deus por vezes padecem no corpo. Assim, não é sinal de falta de amizade com Deus o padecermos no corpo. Elifaz errava ao dizer a Jó, Lembra-te: que inocente pereceu jamais? ou quando foram os justos destruídos? (Jó 4, 7), como provam as irmãs de Lázaro: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas. Lemos no livros dos Provérbios (3, 12): O Senhor castiga aquele a quem ama, como um pai a seu f ilho querido.

b) A segunda é que elas não dizem: Senhor, vinde, curai-o, mas apenas expõem o seu estado: eis que está enfermo. O que significa que basta exprimir a um amigo as nossas necessidades, sem acrescenta pedido algum; pois um amigo, assim como procura seu próprio bem e combate seus males pessoais, combaterá os males de seu amigo. E isto é sobretudo verdadeiro de quem verdadeiramente ama. Diz o salmo (144, 20): O Senhor guarda todos os que o amam.

c) A terceira é que as duas irmãs, desejando a cura de seu irmão doente, não vêm pessoalmente ao Cristo, como o fizeram o paralítico e o centurião; e isso por causa de sua confiança em Jesus Cristo, em virtude 56 do amor especial e da familiaridade que lhes testemunhará. E talvez estivessem detidas pela dor, como disse são João Cristóstomo, em conformidade com aquilo do Eclesiástico (6, 11): Se o teu amigo perseverar firme, será para ti como um igual, tratará à vontade com os da tua casa.

MEDITAÇÃO DE HOJE.


A VIDA DOLOROSA DE NOSSO SENHOR.

Imagina, minha alma, que vês passar Jesus nesse doloroso caminho. Assim como um cordeiro é levado ao matadouro, o amantíssimo Redentor é conduzido à morte. Ele está tão esgotado e enfraquecido pelos tormentos, que apenas pode ter-se em pé. Ei-lo todo dilacerado pelas feridas, com a coroa de espinhos sobre a cabeça, com o pesado madeiro sobre os ombros e com algoz que puxa por uma corda. Caminha com o corpo curvado, com os joelhos trêmulos, gotejando sangue; anda com tanta dificuldade que parece que a cada passo vai exalar a vida. Pergunta-lhe: "Ó cordeiro divino, não estais ainda farto de dores? Se com isso pretendeis conquistar o meu amor, deixai de sofrer que eu quero amar-vos com desejais". "Não", responde-te, "ainda não estou satisfeito: só então estarei contende, quando estiver morto por teu amor". "E agora aonde ides, meu Jesus? "Vou morrer por ti, não mo impeças; uma só coisa eu pelo e recomendo: quando me vires morto sobre a Cruz por ti, recorda-te do amor que te dediquei; lembra-te disso e ama-me".

Ó meu aflito Senhor, quanto vos custou o fazer-me compreender o amor que me consagrastes. Que vantagem vos poderia trazer meu amor, que para conquistá-lo quisestes sacrificar vosso Sangue e a vida? E como pude eu, objeto de tão grande amor, viver tanto tempo sem vos amar, esquecido de vosso afeto? Agradeço-vos a lua que me dais agora e que faz conhecer o quanto me tendes amado. Eu vos amo, bondade infinita sobre todas as coisas; desejaria, se pudesse, sacrificar vos mil vidas, que quisestes sacrificar a vossa vida divina por mim. Concedei-me aqueles auxílios que me haveis merecido com tantas penas para vos amar de todo o coração. Dai-me aquele santo fogo que vieste acender na Terra, morrendo por nós. Recordai-me sempre da vossa morte, para que nunca mais me esqueça de vos amar.

terça-feira, 1 de abril de 2025

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA.

TERÇA-FEIRA DA 4ª SEMANA DA QUARESMA.

O EXEMPLO DE CRISTO CRUCIFICADO.

Nosso Senhor assumiu a natureza para reparar a queda do homem. Por isso, foi necessário que Cristo padecesse e vivesse conforme a natureza humana, como remédio à queda do pecado.

Ora, o pecado do homem consistiu em ter o homem se apegado aos bens corporais e se desinteressado dos espirituais. Convinha, pois, ao Filho de Deus, por tudo que fez e sofreu na natureza humana que assumira, mostrar se de modo tal, que fizesse os homens terem por nada os bens e os reveses do século, abandonarem o apego desordenado e se devotarem aos bens espirituais.
Foi por isso que Cristo quis nascer de pais pobres, mas perfeitos em virtude, para nos ensinar a não nos gloriarmos da nobreza da carne, ou da riqueza dos pais. 

Ele viveu uma vida pobre, para ensinar o desprezo das riquezas.

Viveu sem honrarias, para arrancar os homens da cobiça desordenada delas.

Suportou os trabalhos, a sede, a fome, os tormentos corporais, para que os homens, desejosos de prazeres e delícias, não se deixassem desviar do bem da virtude pelas misérias desta vida.

Por fim, era conveniente que o Filho de Deus humanado morresse, a fim de que, por temor da morte, não abandonássemos a via da virtude. E, para que não temêssemos a morte ignominiosa, escolheu a pior das mortes, a morte na Cruz.

Também foi conveniente que o Filho de Deus humanado sofresse a morte, a fim de que, por seu exemplo, fossemos estimulados à virtude, e para que fossem verdadeiras as palavras de são Pedro: Cristo também sofreu por nós, deixando-vos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. (1 Pd 2, 21).

Mas, Cristo também sofreu por nós, deixando-vos o exemplo da tribulação, dos ultrajes, da flagelação, da cruz, da morte, para que marchássemos sobre suas pegadas. Se suportarmos por Cristo tribulações e sofrimentos, também reinaremos com ele na eterna beatitude. Diz são Bernardo: "Como são poucos, ó Senhor, os que vos querem seguir, apesar de todos quererem estar convosco e saberem que as beatitudes estarão ao vosso lado até o fim. Ora, todos querem fruir de vós, mas não vos querem imitar; querem reinar, mas não padecer convosco; não vos procuram, mas vos querem encontrar; desejam conseguir, mas não seguir".

MEDITAÇÃO DE HOJE .

EM QUE CONSISTE A PERFEIÇÃO DA ALMA.

A caridade está sempre unida à verdade, donde ocorre que a caridade, sabendo que Deus é o único e verdadeiro bem, aborrece a iniquidade que se opõe à divina vontade, e não se compraz com outra coisa, senão com aquilo que Deus quer. É assim que a alma que ama a Deus pouco se importa do que os outros dizem dela, e só procura fazer o que apraz a Deus. Dizia o beato Henrique de Suso: "Está verdadeiramente bem com Deus aquele que se esforça par satisfazer a verdade, e não estima em nada o modo com que depois será tratado ou reputado pelos homens".

Já dissemos outras vezes acima que toda a santidade e perfeição duma alma consistem em ela negar-se a si mesma e seguir a vontade de Deus; mas aqui importa falar disso com maior especificidade. Este. pois, dever ser todo o nosso esforço se queremos tornar-se santos, o de não seguir jamais a própria vontade, mas sempre a de Deus; pois a essência de todos os preceitos e conselhos divinos se resume a fazer e sobre o que Deus quiser e como Deus o quiser. Roguemos, portanto, ao Senhor que nos dê a santa liberdade de espírito: a liberdade de espírito faz-nos abraçar tudo o que apraz a Jesus Cristo, não obstante qualquer repugnância do amor-próprio ou do respeito humano. O amor de Jesus Cristo põe seus amantes numa total indiferença, na qual tudo lhes parece igual, o doce e o amargo: nada querem do que lhes agrada, e querem tudo o que agrada a Deus; com a mesma para empenham-se nas coisas grandes e nas pequenas, nas coisas agradáveis e nas desagradáveis: basta-lhes que agradem a deus. 

ORAÇÃO DO MÊS DE ABRIL.

Eterno justo e admirável Deus, que sempre nos possibilitas, por pura graça, participamos dos mistérios de teu Filho, concede-nos sempre o privilégio de estarmos em união contigo, onde quer que estejamos. Olha com carinho pra teus filhos e filhas que mais necessitam da tua misericórdia. Que na experiência de nossa semana maior possamos adentrar e vivenciar, juntamente com o Cristo, o grandioso mistério da paixão, morte e ressureição. E assim, a nossa Páscoa anual seja realmente uma ação em nossas vidas e na vida de nossos irmãos. Ajuda-nos, ó Pai, a fazer da lava-pés um sinal de amo, serviço e misericórdia. Desse modo, chegaremos a tal perfeição. Desse modo, chegaremos a tal perfeição, palmilhando os passos do teu amado e dulcíssimo Filho. Amém.

segunda-feira, 31 de março de 2025

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA.

SEGUNDA-FEIRA DA 4ª SEMANDA DA QUARESMA.

CRISTO MERECEU, PELA SUA PAIXÃO, SER EXALTADO.

"Ele tornou-se obediente até a morte, e morte de cruz; para o qual Deus também o exaltou." (Fl 2,8).

O mérito comporta certa igualdade com a justiça. Por isso, diz o Apóstolo que "para aquele que realiza obras, o salário é considerado um débito" (Rm 4,4). Quando alguém, por sua injusta vontade, atribui a si mais do que se lhe deve, é justo que se diminua também o que se lhe devia, como diz o livro do Êxodo (22): "Quando um homem roubar uma ovelha, devolva". E dizemos que ele o mereceu, porquanto desse modo se pune sua vontade injusta. Assim também, quando alguém, por uma justa vontade, se priva do que tinha direito de possuir, merece que se lhe dê mais, como salário de sua vontade justa. Por isso, como diz o Evangelho de Lucas, "quem se humilha será exaltado" (Lc 14, 11).

I. Ora, Cristo, em sua Paixão, de quatro modo se humilhou abaixo de sua dignidade:

a) Primeiro, em relação à sua paixão e morte, de que não era devedor.

b) Segundo, em relação ao local, pois seu corpo foi posto num sepulcro, e sua alma, na mansão dos mortos.

c) Terceiro, em relação à confusão e opróbrios que suportou.

d) Quarto, em relação ao fato de ter sido entregue ao poder dos homens, conforme ele mesmo disse a Pilatos: "Não terias poder algum sobre mim se não te houvesse sido dado do alto" (Jo 19,11).

II. Por sua paixão, mereceu a exaltação de quatro maneiras:

a) Primeiro, em relação à ressurreição gloriosa. Por isso, diz o salmo (138, 1): "Conheces o meu deitar", ou seja, a humilhação de minha paixão, "e o meu levantar".

b) Segundo, em relação à ascensão ao céu. Por isso, diz a Carta aos Efésios: "Desceu primeiro até as partes inferiores da terra. Aquele que desceu é também o que subiu mais alto que todos os céus" (Ef 4, 9-10).

c) Terceiro, em relação ao assento que teve à direita do Pai e à manifestação de sua divindade, conforme diz Isaías: "Ele será exaltado, elevado, e posto muito alto, da mesma forma que as multidões ficaram horrorizadas a seu respeito assim será sem glória o seu aspecto entre os homens" (52, 13-14). E diz a Carta aos Filipenses (2, 8-10): "Ele se fez obediente até a morte e morte numa cruz. Foi por isso que Deus lhe conferiu o Nome que está acima de todo nome", ou seja, para que por todos seja considerado como Deus e todos lhe mostrem reverência como a um Deus. E é o que se acrescenta: "A fim de que ao nome de Jesus todo joelho se dobre, nos céus, na terra e debaixo da terra".

d) Quarto, em relação ao poder judiciário, pois diz o livro de Jó: "Tua causa foi julgada como a de um ímpio. Receberás o juízo e a causa" (Jó 36, 17).

domingo, 30 de março de 2025

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA.

QUARTO DOMINGO DA QUARESMA.

CRISTO COM SUA PAIXÃO ABRIU A PORTA DO CÉU.

"Portanto, irmãos, tenham confiança de entrar no Santuário pelo sangue de Cristo". (Hb 10,19).

O fechamento de uma porta é um obstáculo que impede a entrada das pessoas. Ora, os homens estavam impedidos de entrar no reino dos céus por causa do pecado, pois, como diz Isaías (25, 8): "Caminho sagrado chamá-lo-ão. O impuro não passará por ele".

E há dois pecados que impedem a entrada do reino dos céus. Um é o pecado de nosso primeiro pai, pecado comum a toda a natureza humana e que fechava ao homem a entrada do reino celeste. Por isso, se lê no livro do Gênesis, que, depois do pecado do primeiro homem, "Deus postou os querubins com uma espada de fogo e versátil, para guardar o caminho da árvore da vida". O outro é o pecado especial de cada pessoa, cometido pelo ato pessoal de cada homem.

Pela paixão de Cristo somos libertados não só do pecado comum a toda a natureza humana, em relação à culpa e em relação à dívida da pena, uma vez que ele pagou por nós o preço, mas também dos pecados próprios de cada um dos que participam da paixão dele pela fé, pelo amor, e pelos sacramentos da fé. Consequentemente, pela paixão de Cristo foi-nos aberta a porta do reino celeste. E é precisamente isso que nos diz a Carta aos Hebreus (9, 11): "Cristo, sumo sacerdote dos bens vindouros, por seu próprio sangue, entrou uma vez para sempre no santuário e obteve uma libertação definitiva". É o que dá a entender o livro dos Números quando diz que o homicida "ali permanecerá", ou seja, na cidade de refúgio, "até a morte do sumo sacerdote consagrado com o óleo santo" (Nm 35, 25); depois da morte deste, voltará para sua casa.

Deve-se dizer que os Patriarcas, ao realizarem obras de justiça, mereceram entrar no reino celeste pela fé na paixão de Cristo, segundo o que diz a Carta aos Hebreus (Hb 11, 33): "Graças à fé, conquistaram reinos, praticaram a justiça"; por ela, cada um deles ficava limpo do pecado, quanto condiz com a purificação da própria pessoa. Contudo a fé ou a justiça de nenhum deles era suficiente para remover o impedimento proveniente da dívida de todas as criaturas humanas. Impedimento que foi removido pelo preço do sangue de Cristo. Por isso, antes da paixão de Cristo, ninguém pudera entrar no reino celeste, ou seja, conseguir a eterna bem-aventurança, que consiste no pleno gozo de Deus.

Cristo, com sua paixão, mereceu-nos a abertura do reino celeste e removeu o impedimento; mas pela ascensão como que nos introduziu na posse do reino celeste. Por isso, se diz que "já subiu, diante deles, aquele que abre o caminho" (Mq 2, 13).