A santidade do matrimônio ao longo dos séculos.
SANTA MELÂNIA e VALÉRIO PINIANO.
Ao descrever as grandes personalidades romanas que, durante o século IV, foram exemplo de matrimônio e viuvez vividos de maneira cristã num contexto apenas superficialmente cristão, é preciso mencionar, além de Santa Paula Romana, o nome de Santa Melânia, a Jovem.
Melânia nasceu em 383, em Roma, filha do Cônsul Valério Publíco - que, por sua vez, era filho de Santa Melânia, a Velha - e de Albina, a qual provinha de uma família pagã cujo pai inclusive ocupava um alto cargo de sacerdote pagão. A nobre família em que nasceu Melânia possuía imensas propriedades e, por isso, também era dona de inúmeros escravos e escravas. Acolhendo a fé cristã com grande dedicação, a jovem Melânia tinha receio de ser uma daquelas pessoas abastadas a quem era negado o Reino do Céus, devido a sua fortuna (cf. Mt 19,24). Desde cedo, com seu coração simples, queria oferecer tudo a Deus, inclusive ela mesma, com sua virgindade intacta.
Muito cedo conheceu a diferença gritante entre a vida das famílias nobres e a vida daquela classe oprimida de pobres escravos, reduzidos à servidão e considerados pela sociedade romana quase que animais de carga. O Evangelho, ao contrário, ensina que todas as pessoas são irmãos e irmãs. Melânia desejava uma vida simples, virginal e modesta, diferente da vida que a rodeava e dos planos de seu pai. Querendo dissuadi-la de suas ideias extravagantes, em 396, repentinamente ofereceu a mão da filha a seu afortunado sobrinho Valério Severo Piniano. Melânia tinha apenas treza anos, e seu primo e esposo, dezessete.
Melânia tentou persuadir Valério e renunciar às relações sexuais. Ele estava disposto a fazê-lo, desde que antes tivessem dois filhos para perpetuar a linhagem. Melânia teve de consentir com esse plano. Primeiro deu à luz uma menina, que morreu alguns anos depois. O segundo filho, um menino, sobreviveu apenas algumas horas após um parto prematuro, enquanto Melânia permaneceu em iminente risco de vida. Piniano rezou com fervor no túmulo do diácono São Lourenço, em Roma, para que Deus salvasse a vida de sua mulher. Ele prometeu que, se suas preces fossem ouvidas, dali em diante iria praticar a perfeita castidade em seu casamento. A esposa sobreviveu, mas seus não permitiram que os dois levassem a promessa adiante. Apenas após a morte do pai dela, em 404, a ainda jovem Melânia (aos vinte e um anos) pôde cumprir a promessa com Piniano (aos vinte e cinto), e assim o fizeram até o fim de suas vidas.
Além da promessa de castidade matrimonial, Melânia também convenceu o marido a renunciar a qualquer extravagância em seu estilo de vida e a usar toda a sua fortuna em obras de caridade e no sustendo da Igreja. O primeiro passo foi a libertação de oito mil escravos.
Para superar qualquer apego a seu imenso patrimônio, o casal partiu para Roma e viajou primeiro até Nola, a fim de visitar Paulino, seu parente distante. Com o avanço dos godos, em 408 o casal refugiou-se em suas terras na costa leste da Sicília. Ali, Melânia e Piniano tiveram a ideia de levar uma vida comum em um tipo de regime conventual que a muitos inspirava naqueles tempos, e para o qual Santo Agostinho já havia compilado uma espécie de regra. Com mais sessenta mulheres, Melânia deu início ao claustro. Piniado fez o mesmo, e perto dali viveu com mais trinta monges.
Temendo o ataque das tribos germânicas, o casal, agora consagrado à vida religiosa, mudou-se novamente, da Sicília para Tagaste (norte da África), terra de Santo Agostinho, onde seu amigo Alípio era bispo da época. Cada um deles fundou um mosteiro, um para mulheres, outro, para homens. Passados dois anos em Tagaste, em 413 Melânia e Piniado deixaram a África e foram - desta vez a pé, como sua santa avó Melânia, a Velha - para a Palestina. Depois de breves visitas aos monges no deserto egípcio, a São Cirilo de Alexandria e a São Jerônimo, fixaram-se em Belém e, mais tarde, em Jerusalém. Ali Melânia fundou um convento com noventa irmãs, onde ela mesma ocupava uma cela modestíssima perto do Monte da Oliveiras, e viveu uma vida reclusa e penitente na mais austera pobreza, depois de distribuir toda a sua enorme fortuna a igrejas, mosteiros, e aos necessitados. Quando faleceu, aquela que já havia sido a mais abastada mulher do Império Romano, tinha agora consigo apenas cinquenta moedas de ouro, que foram dadas ao bispo. Seu marido Piniano o fez o mesmo com todas as suas posses. Ele morreu em 437, e Melânia viveu ainda por mais dois anos, vindo a falecer em 31 de dezembro de 439. Depois de uma jornada pastoral bem-sucedida até Constantinopla, passou o Natal em Belém com uma parente por quem tinha grande afeição, Paula, a jovem, neta da Santa Paula Romana. Ela também foi à celebração de Santo Estevão, em Jerusalém, quando sentiu que morre chegaria em breve. Melânia pediu que suas acompanhantes e levassem para dentro da igreja e recebeu três vezes o Viático, de acordo com o costume da época. Por fim, faleceu, dizendo: "Se for do agrado de Deus, que assim seja".
HOLBÖCK, Ferdinand. Santos Casados: A santidade no matrimônio ao longo dos séculos. P. 51-54, RS: Minha Biblioteca Católica 2020.