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sexta-feira, 18 de abril de 2025

MEDITAÇÃO:

JESUS É PREGADO NA CRUZ

"Chegando ao lugar chamado Caveira, lá o crucificaram, bem como aos malfeitores, uma à direita e outro a esquerda".

Apenas chegou o Redentor ao Calvário, triturado de dores e fadigado, arrancam-lhes as vestes já pegadas às suas carnes dilaceradas e arremessam-no sobre a cruz. Jesus estende seus sagrados braços e ao mesmo tempo oferece ao eterno Pai o sacrifício de sua vida, rogando-lhe que o aceite pela salvação dos homens. Os carrascos toma então com fúria os cravos e os martelos e, atravessando-lhe aos pés e as mãos, pregam-no na cruz. Ó mãos sagradas, que só com o vosso contacto curastes tantos enfermos, por que vos pregam nessa cruz? Ó pés santos, que tanto vos cansastes para nos buscar a nós, ovelhas desgarradas, por que vos atravessam com tanta crueldade? Quanto se fere um nervo do corpo humano, é tão aguda a dor, que ocasiona espasmos e delíquios. Ora, quão grande terá sido de Jesus, quando lhe foram atravessados os pés e as mãos, cheios de nervos e músculos, pelos duros cravos! Ó meu doce Salvador, tanto vos custou o desejo de ver-me salvo e de conquistar o meu amor e eu, ingrato, tantas vezes desprezei o vosso amor por um nada; agora, porém, o estimo acima de todos os bens.

Levantam a cruz com o Crucificado e fazem-no cair com violência no buraco feito no rochedo. Esse buraco é em seguida entupido com pedras e madeira, e Jesus fica pendente na cruz, para aí consumar sua vida. Estando Jesus já agonizando naquele leito de dores e achando-se tão abandonado e triste, procura quem o console, mas não encontra. Ao menos terão compaixão de Vós, ó meu Senhor, os homens que vos veem morrer? Pelo contrário; vejo que uns vos injuriam, outros zombam de Vós; estes blasfemam, aqueles vos escarnecem, dizendo: Se és Filho de Deus, desce da cruz (...) Ele salvou outros, a si mesmo não se pode salvar (Mt 27, 40-42). Ai bárbaros, Ele já está a expirar como desejais; ao menos não o atormenteis com as vossas zombarias. Vê quanto padece naquele patíbulo o rei teu Redentor. Cada membro sofre o seu tormento e um não pode aliviar o outro. A cada momento Ele experimenta penas mortais. Pode-se dizer que durante aqueles três horas que Jesus agonizou na cruz, Ele sofreu tantas mortes quantos foram os momentos que aí passou. Não encontra na cruz o mínimo alívio ou repouso. Se se apoia nas mãos ou nos pés, aumenta a dor, já que seu Corpo sacrossanto está pendente dessas mesmas chagas. Corre, minha alma, e chega-te enternecida a essa cruz, beija esse altar, sobre o qual morre como vítima de amor por ti o teu Senhor. Coloca-te debaixo de seus pés e deixar que caia sobre ti aquele sangue divino. Sim, meu caro Jesus, que esse sangue me lave de todos os meus pecados e me inflame todo em amor para convosco, meu Deus, que quisestes morrer por meu amor. Ó Mãe das Dores, que estais ao pé da cruz, rogai a Jesus por mim. 

MEDITAÇÃO.


JESUS É CONDENADO POR PILATOS.
Pilatos, depois de haver tantas vezes declarado a inocência de Jesus, mais uma vez a proclama, protestado se Ele inocente do sangue daquele justo, e contudo pronunciou a sentença e o condenou à morte. Oh, injustiça nunca vista no mundo! Ao mesmo tempo que o juiz declara inocente o acusado, ele o condena. Ah, meu Jesus, Vós não mereceis a morte, mas eu a mereço. Visto, porém, que quereis satisfazer por mim, não é Pilatos, mas é o vosso próprio Pai que vos condena a pagar a pena a mim devida. Eu vos amo, ó Pai Eterno, que condenais vosso Filho inocente para livrar-me a mim que sou réu. Eu vos amo, ó Filho eterno, que a aceitais a morte devida e um pecador.

Pilatos, tendo condenado a Jesus, entrega-o às mãos dos judeus, para que façam com Ele o que desejavam: Abandonou Jesus ao arbítrio deles (Lc 23,25). É de fato o que acontece: quando se condena um inocente, não se limita à pena, sendo ele abandonado às mãos dos inimigos, para que o façam padecer e morrer como lhes aprouver. Pobres judeus, vós então pedistes o castigo, dizendo: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos (Mt 27,25). E o castigo já veio! Desgraçados, sofreis e haveis de sofrer até o fim do mundo o castigo desse sangue inocente. Ó meu Jesus, tende piedade de mim, que com minhas culpas também motivei a vossa morte. Não quero ficar obstinado como os judeus, quero chorar os maus-tratos que vos dei e amar-vos sempre, sempre, sempre.

Eis que se lê diante do Senhor a injustiça sentença, condenando-o à morte da cruz. Ele a ouve, e, inteiramente submisso à vontade do Pai, obediente a aceita com toda a humildade: Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz (Fl 2,8). Pilatos na Terra diz: "Morra Jesus!. E o Filho responde por sua vez: "Eis-me aqui. Eu obedeço e aceito a morte, e a morte da cruz". Meu amado Redentor, Vós aceitais a morte que me é devida. Seja bendita a vossa misericórdia para sempre: eu vos agradeço sumamente. Mas visto que Vós, inocente, aceitais a morte da cruz por mim, eu, pecador, aceito a morte que me destinardes com todos os sofrimentos que a acompanharem e desde já a uno à vossa morte e o ofereço a vosso eterno Pai. Vós morrestes por meu amor, e eu quero morrer por amor de Vós. Pelos merecimentos de vossa santa morte, fazei-me morrer na vossa graça e abrasado no vosso santo amor. Maria, minha esperança, recordai-vos de mim.

MEDITAÇÃO.


PILATOS MOSTRA JESUS AO POVO:
Tendo sido Jesus conduzido novamente à presença de Pilatos, este, vendo-o todo dilacerado e deformado pelos açoites e espinhos, julgou poder incitar a compaixão do povo, mostrando-lhe Jesus. Por isso, saiu para fora, até o pórtico ou alpendre, levando consigo Jesus, e disse: Eis aqui o homem, como se dissesse.: "Vede, ainda não estais contentes com o que padeceu este pobre inocente? Ei-lo reduzido a um estado em que não poderá mais viver. Deixai-o, pois, em paz, pois pouco tempo lhe restará de vida". Contempla tu também, minha alma, o teu Senhor sobre aquele pórtico, como ele está amarrado e seminu, coberto todo de chagas e de sangue, e reflete a que estado está reduzido o teu pastor para salvar-te a ti, ovelha desgarrada.

No mesmo tempo em que Pilatos mostra aos judeus Jesus coberto de chagas, o Pai Eterno no Céu nos convida a contemplar Jesus em tal estado e nos diz igualmente: Eis aqui o homem. "Homens, esse homem, que vedes tão chegado e desprezado é o meu Filho muito amado, que para pagar por vossos pecados padece tanto: contemplai-o e amai-o". Meu Deus e meu Pai, eu contemplo o vosso Filho e lhe agradeço e o amo e espero amá-lo sempre. Suplico-vos, porém, que o contempleis também e pelo amor deste vosso Filho tende piedade de mim, perdoai-me e dai-me a graça de não amar senão a Vós.

Que respondem, porém, os judeus à vista deste rei de dores? Fazem uma grande gritaria e dizem: Crucifica-o, crucifica-o! E vendo que Pilatos, apesar de seus insultos, procurava libertá-lo, aterrorizam-no dizendo: Se soltas este, não és amigo de César (Jo 19,12). Pilatos resiste ainda uma vez e replica: Pois eu hei de crucificar o vosso rei? E eles responderam: Não temos rei, senão César. Ah, meu adorado Jesus, eles não querem vos conhecer por seu rei e afirmam que não querem outro rei senão César. Eu vos reconheço por meu Rei e protesto que não quero outro rei para o meu coração senão Vós, meu amor e meu único bem. Infeliz de mim. Também eu vos desconheci por algum tempo como meu Rei e protestei não querer servi-vos. Agora, porém, quero que só Vos domineis sobre minha vontade. Fazei que ela obedeça a tudo o que ordenardes. Ó vontade de Deus, Vós sois o meu amor. Ó Maria, rogai por mim, pois as vossas súplicas nunca são desatendidas.

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA

SEXTA-FEIRA SANTA 
(Sexta da Paixão)

A MORTE DE CRISTO.

Foi conveniente que Cristo morresse, pelas seguintes razões:

1. Para consumar a nossa redenção, pois, apesar da Paixão ter virtude infinita por causa da união da divindade, não foi durante um sofrimento qualquer que nossa redenção foi consumada, mas na morte de Cristo. Por isso diz o Espírito Santo pela boca de Caifás (Jo 11, 50): convém que morra um homem pelo povo. E santo Agostinho: Admiremos, congratulemo-nos, rejubilemo-nos, amemos, louvemos e adoremos, pois, pela morte de nosso redentor, fomos chamados das trevas à luz, da morte à vida, do exílio à pátria, do luto à alegria.

2. Para o aumento da fé, da esperança e da caridade. Quanto ao crescimento da fé, aquilo do salmista: quanto à mim, estou só até que eu passe, i. é, deste mundo ao Pai. Mas, quando tiver passado deste mundo ao Pai, então serei multiplicado. Se o grão de trigo que cai na terra não morre, permanece só.

Quanto ao crescimento da esperança, diz o Apóstolo (8, 32): O que não poupou nem o seu próprio Filho, mas por nós todos o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? É inegável que dar todas as coisas é ainda menos que entregar Cristo à morte por nós. São Bernardo diz: "Quem não se encherá da esperança de possuir confiança, se considerar a posição do corpo crucificado de Cristo? Sua cabeça inclinada, para dar-nos o ósculo da paz; seus braços estendidos, para nos abraçar; suas mãos traspassadas, para nos cumular de bens; seu coração aberto, para nos amar; seus pés cravados, para permanecer conosco". Lemos nas Escrituras (Ct 2, 14): "Pomba minha, tu que te recolhes nas aberturas da pedra". Nas chagas de Cristo, a Igreja estabeleceu e fez seu ninho, colocando a esperança de sua salvação na Paixão do Senhor; e assim protege-se das surpresas do falcão, i. é, do diabo.

Quanto ao crescimento da caridade, aquilo das Escrituras (Ecle 43, 3): "Ao meio dia queima a terra". Ou seja, no fervor da Paixão, ardem de amor os corações terrestres. Diz ainda são Bernardo: "O cálice que bebestes, ó bom Jesus, mais que tudo, vos fez amável. A obra de nossa redenção reivindica absoluta e prontamente todo nosso amor para si; ela faz agradável a devoção, torna-a mais justa, une-nos mais estreitamente e com maior veemência nos toca o coração."

3. Por causa do sacramento da nossa salvação, para que, pelo exemplo de sua morte, morrêssemos para este mundo. "Por isso a minha alma prefere a suspensão, os meus ossos preferem a morte" (Jó 7, 15). E são Gregório comenta: "A alma é a intenção do espírito, os ossos são a força da carne. O que está suspenso, foi erguido do chão. A alma, portanto, foi erguida às coisas da eternidade, para que morram os ossos, pois o amor da vida eterna destrói em nós toda a força da vida exterior". Ser desprezado pelo mundo é o sinal desta morte. São Gregório acrescenta: "o mar retém os corpos viventes, mas rejeita os cadáveres".

MEDITAÇÃO.


JESUS É COROADO DE ESPINHOS.

"Os soldados tecendo uma coroa de espinhos, puseram-se em sua cabeça e jogaram sobre ele um mano de púrpura".
João 19, 2).

Depois de terem os soldados flagelados a Jesus Cristo, reuniram-se todos no pretório e, despojando-o novamente de suas vestes, para escarnecer dele e torná-lo um rei de comédia, puseram-lhe sobre os ombros um manto velho de cor vermelha, para representar a púrpura real, e na mão uma cana significando o cetro, e na cabeça um feixe de espinhos parodiando a coroa, que lhe envolvia toda a sagrada cabeça.  E visto que os espinhos com a força das mão não se cravavam na sua divina cabeça, toma-lhe a cana e e enterram-lhe na cabeça aquela horrenda coroa: Cuspindo-lhe, tomavam a cana e batiam-lhe com ela na cabeça. (Mt 27,30). Ós espinhos ingratos, assim atormentais o vosso Criador? Mas que espinhos, que espinhos! Vós, maus pensamentos meus, vós traspassastes a cabeça de meu Redentor. Detesto, ó meu Jesus, e aborreço mais que a morte aqueles perversos consentimentos com que tantas vezes vos desgostei a Vós, meu Deus t]ao bom e misericordioso. Mas já que me fazeis conhecer quanto me tendes amado, quer amar-vos a Vós somente e nada mais.

Ó Deus, já escorre a fio o sangue dessa cabeça ferida sobre a face e o peito de Jesus, e Vós, meu Salvador, nem sequer vos lamentais de tão injusta crueldade! Vós sois o Rei do Céu e da Terra, mas agora estais reduzido ao papel de um rei de burla e de dores, feito o ludíbrio de toda a Jerusalém. Devia, porém, realizar-se a profecia de Jeremias: Oferecerá a faze ao que o fere; farta-se-á de opróbrios (Lm 3,30). Jesus, meu amor, eu vos desprezei pelo passado, mas agora eu vos estimo e vos amo com todo o meu coração e desejo morrer por vosso amor.

Mas esses homens não estão ainda satisfeitos com os tormentos e escárnios a quem vos sujeitaram. Depois de vos haver assim atormentado e tratado como rei de teatro, ajoelhavam-se diante de vós e zombando vos diziam: "Salve, ó rei dos judeus". E davam-lhe bofetadas (Mt 27,29). Aproxima-te ao menos tu, minha alma, e reconhece Jesus como o Rei dos reis e o Senhor dos senhores e agradece-lhe e ama-o, porque se fez, por teu amor, rei das dores. Ah, meu Senhor, esquecei-vos dos desgostos que vos dei. Agora eu vos amo mais que a mim mesmo. Só Vós mereceis todo o meu amor e por isso só a Vós eu quero amar. Tenho medo de minha fraqueza, mas Vós me dareis força para executá-lo. E vós, ó Maria, ajudar-me-eis com as vossas súplicas.

MEDITAÇÃO


JESUS É FLAGELADO.
Pilatos tomou então e mandou-o flagelar (Jo 19,1). Ó juiz injusto, tu o declarastes inocente e em seguida o condenas a um castigo tão cruel como vergonhoso? Contempla, minha alma, como, depois dessa ordem iníqua, os carrascos se apoderam do cordeiro divino, conduzem-nos ao pretório e o amarram com cordas a uma coluna. Ó cordas bem-aventuradas, vós que prendestes àquela coluna as mãos de meu doce Redentor, prendei também a seu coração divino o meu miserável coração, para que de hoje em diante eu não busque e não queira outra coisa senão o que Ele quer.

Eis que já toma nas mãos os azorragues e, dado o sinal, começam a rasgar aquelas carnes sacrossantas de alto a baixo: primeiramente mostram-se lívidas e depois esguicham sangue de todos os pontos. Os azorragues e as mãos dos carrascos já estão tintos de sangue e a própria terra está toda banhada. Ó Deus, pela violência dos golpes, voam pelos ares não só o sangue, mas até pedaços de carne de Jesus Cristo. Seu corpo divino já está todo dilacerado, mas aqueles bárbaros continuam a acrescentar feridas a feridas, dores e dores. Entretanto, que faz Jesus? Ele não se lamenta, mas sofre pacientemente aquele horrível tormento para aplacar a justiça divina irada contra nós. Como um cordeiro sem voz diante do que o tosquia, assim ele não abriu a sua boca (At 8,32; cf. Is 53,7). Corre, minha alma, e lava-te nesse sangue divino. Meu amado Senhor, eu vos vejo todo dilacerado por mim; não posso, pois, duvidar mais de que Vós me amais e me amais muito. Cada chaga vossa é uma prova evidente de vosso amor, que com muita razão pede o meu amor. Vós me dais o vosso Sangue sem reserva, ó meu Jesus; é justo que eu também vos dê o meu coração sem reserva. Recebei-o  pois, e fazei que eu vos seja sempre fiel.

Ó Deus, se Jesus Cristo não tivesse sofrido senão um só golpe por meu amor, já deveria abrasar-me de amor por Ele, pensando: um Deus quis ser ferido por mim! Ele, porém, não se contentou com um só golpe, mas, para pagar por meus pecados, quis que lhe fossem dilacerados todos os membros, como já predissera Isaías: Foi despedaçado por causa dos nosso crimes (Is 53,5), e torna-se semelhante a um leproso coberto de chagas dos pés até à cabeça: E nós o reputamos como um leproso. Minha alma, enquanto Jesus era flagelado pensava em ti e oferecia a Deus seus acerbos martírios para livrar-te dos flagelos eternos do inferno. Ó Deus de amor, como pude eu viver tantos anos sem vos amar! Ó chagas de Jesus, feri-me de amor para com Deus que tanto me amou. Ó Maria, Mãe da Graça, alcançai-me este amor!

MEDITAÇÃO DE HOJE.


A VONTADE DE DEUS É A NOSSA SANTIFICAÇÃO.
Os desejos Santos são as asas que nos fazem alçar voo da terra; pois, como diz São Lourenço, o santo desejo "supre a força, e torna mais leve a dor": por um lado, dá-nos a força de caminhar rumo è perfeição e, por outro, alivia a pena do caminho. Quem verdadeiramente deseja a perfeição não deixa jamais de procurar avançar na sua direção; e se nunca deixa de fazê-lo, um dia a alcançará. Diz Santo Agostinho que, nas sendas de Deus o não avança significa retroceder: "Não progredir é regredir". Encontrar-se-á sempre na retaguarda quem não se esforça para ir adiante, e será carregado pela correnteza da nossa natureza corrompida. 

É, pois, um grande erro o que dizem alguns: Deus não quer que todos sejam santos. Não, diz São Paulo: Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação (1Ts 4,3). Deus quer que todos sejam santos, e cada um na sua ocupação: o religioso como religioso, o secular, o sacerdote como sacerdote, o casado como casado, o comerciante como comerciante, o soldado como soldado, e assim por diante em todos as outras condições. São belíssimas os documentos que sobre esta matéria nos dá minha grande advogada Santa Teresa. Em certo momento ela diz: "Sejam os nossos pensamentos elevados, porque deles virá o nosso bem". Noutra passagem diz: "Não é preciso vilificar os desejos, mas confiar em Deus, porque, se nos esforçarmos, pouco a pouco poderemos chegar aonde chegaram muitos santos com a divina graça". E em confirmação disso ela testemunhava ter a experiência de que as pessoas animosas em pouco tempo haviam progredido grandemente: "Porque", dizia, "o Senhor de tal forma se compraz com os desejos, como se já houvessem sido executados". Noutra instância diz: "Deus não faz muitos favores marcantes, senão a quem muito desejou o seu amor". Diz, ademais, noutra passagem: "Deus não deixa de recompensar todo o bom desejo nesta vida, visto que é amigo das almas generosas, ainda que estas duvidem de si mesmas". De um tal espírito generoso era dotada a Santa; donde chegou certa vez a dizer ao Senhor que, se no Paraíso visse outros desfrutar mais do que ela própria, não se importaria com isso; mas, se encontrasse que o amasses mais do que ela, dizia não saber como poderia suportar.

MEDITAÇÃO.


JESUS É CONDUZIDO A PILATOS E A HERODES.

"Chegada a manhã, todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo convocaram um conselho contra Jesus, a fim de lavá-lo à morte. Assim amarrando-o levaram-no e entregaram-no a Pilatos, o governador.

Chegada a manhã, conduzem Jesus a Pilatos, para que o condene à morte; Pilatos, porém, descobre que Jesus é inocente e por isso diz aos judeus que não encontrava motivo para condená-lo. Como, porém, os vê obstinados em quere a sua morte, o remete ao tribunal de Herodes. Este, tendo diante de si Jesus, desejava vê-lo operar um dos muitos milagres de que tanto falavam. O Senhor, porém, nem sequer respondeu às interrogações daquele temerário. Pobre da alma à qual Deus nada mais diz! Meu Redentor, era isso o que eu merecia, por não haver obedecido a tantos chamados vossos. Mas, ó meu Jesus, Vós não me haveis abandonado ainda. Falai-me, pois. Fala, Senhor, porque o teu servo ouve (I Sm 3,9), dizei-me o que desejais de mim, que eu quero tudo o que vos agradar.

Vendo Herodes que Jesus não lhe dava resposta, despeitando o expulsou de sua casa, zombando dele com todo o pessoal da sua corte, e4 para maior desprezo o revestiu com uma veste branca, querendo assim designá-lo como louco, remetendo-o em seguida a Pilatos. E assim é Jesus levado pelas ruas de Jerusalém, revestido com aquela veste de escárnio. Ó meu Jesus desprezado, faltava-vos ainda essa injúria de ser tratado como louco! Ora, se a sabedoria eterna é assim tratada pelo mundo, bem-aventurado é aqueles que não se importa com os aplausos do mundo e não quer saber de outra coisa senão Jesus Crucificado, amando as dores e desprezos, exclamando com o Apóstolo: Julguei que não devia saber coisa alguma entre vós senão a Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado (I Cor 2,2).

Os judeus tinham o direito de exigir do governador romano, na festa da Páscoa, a libertação de um réu. Por isso, Pilatos perguntou ao povo qual dos dois queria, Jesus ou Barrabás. Barrabás era um celerado, homicida, ladrão, odiado por todos. Jesus era inocente. Os judeus, porém, gritam que viva Barrabás e morra Jesus. Ah, meu Jesus, eu também assim falei quando deliberei ofender-vos por uma satisfação qualquer, tendo preterido a Vós qualquer gosto miserável, e para não perdê-lo não me importei com perder a Vós, bem infinito. Mas agora eu vos amo acima de qualquer outro bem, mais que à minha vida. Tender piedade de mim, ó Deus de misericórdia. E vós, ó Maria, sede minha advogada.

MEDITAÇÃO


JESUS É PRESO E AMARRADO.

"E, imediatamente, enquanto ainda falava, chegou Judas, uma dos Doze, com uma multidão trazendo espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes, escribas e anciãos. O seu traidor dera-lhes uma senha, dizendo: É aquele que eu beijar. Prendei-o e levai-o bem guardado. Tão logo chegou, aproximando-se dele. disse: Rabi! E o beijou. Eles lançaram a mão sobre ele e o prenderam.".
Marcos 14, 43-46.

Levantai-vos, vamos; eis que se aproxima o que me há de entregar (Mc 14,42). Sabendo o Redentor que Judas, juntamente com os judeus e soldados que o vinham prender, já estava perto, levanta-se ainda banhado no suor da morte. E com o rosto pálido, mas com o Coração tão inflamado em amor, vai ao seu encontro para entregar-se em suas mãos, e, vendo-os reunidos, pergunta-lhes: A quem buscais? (Jo 18,4). 
Imagina, minha alma, que Jesus te pergunta do mesmo modo: "Dize-me, a quem buscas? Ah, meu Senhor, a quem eu procuro senão a Vós, que viestes do Céu à Terra em busca de mim, para que não perdesse? Prenderam Jesus e ataram-no. Ó Céus, um Deus amarrado! Que diríamos, se víssemos um rei preso e acorrentado por seus criados?! E que devemos dizer então, vendo um Deus entregue às mãos da gentalha? Ó cordas felizes, Vós que ligastes o meu Redentor, predei-me também a Ele, mas prendei-me de tal modo que eu não posso separar-me mais de seu amor; prendei o meu coração à sua vontade santíssima, para que de agora em diante não queria nada mais senão o que Ele quer.

Contempla, minha alma, como uns lhe põe as mãos, outros o ligam, estes o injuriam, aqueles nele batem, e o Cordeiro inocente de deixa atar e esbofetear à vontade deles. Não procura fugir de suas mãos, não pode auxílio, não se queixa de tantas injúrias, não pergunta por que o maltratam assim. Eis realizada a profecia de Isaías: Foi oferecido (em sacrifício), porque ele mesmo o quis, e não abriu a sua boca como uma ovelha que é levada ao matadouro (Is 53,7). Não fala e não se lamenta, porque Ele mesmo já se oferecera à justiça para satisfazer e morrer por nós, e assim deixou-se conduzir à morte qual ovelha - sem abrir a boca. Olha como, preso e circundado por aquele populacho, é arrastado do horto e conduzido às pressas ao pontífices na cidade. E onde estão seus discípulos? Que fazem? Se, não podendo livrá-los das mãos de seus inimigos, ao menos o acompanhassem para defender sua inocência diante dos juízes, ou então para consolá-lo com sua presença! Mas não o Evangelho diz: Então os seus discípulos, abandonando-o, fugiram todos (Mc 14,50). Que dor não sentiu então Jesus, vendo-se abandonado e deixado até por aqueles que lhe eram caros! Jesus viu então todas as almas que, mais favorecidas por Ele, deveriam depois abandoná-lo e voltar-lhe ingratamente as costas. Ah, meu Senhor, minha alma foi uma dessas infelizes que, depois de tantas graças, luzes e convites recebidos de Vós, esqueceram-se ingratamente de Vós e vos abandonaram. Recebei-me, por piedade, agora que arrependido e contrito a Vós me volto para não vos deixar mais, ó tesouro, á vida, ó amor de minha alma.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

MEDITAÇÃO.


A AGONIA DE JESUS NO HORTO.
Depois do canto dos salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. (...) Então foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsâmani (Mt 26, 30.36). Tendo feito a ação de graças depois da ceia, Jesus deixa o cenáculo com seus discípulos, entra no Horto de Getsêmani e põe-se a orar; mal, porém, começa a ora, assaltam-no ao mesmo tempo um grande temor, um grande aborrecimento e uma grande tristeza: Começou a sentir pavor e angústia, diz São Marcos (Mc 14,33) E São Mateus ajunta: Começou a entristecer-se e angustiar-se (Mt 26,37). Oprimido por essa tristeza, nosso Redentor diz que sua alma está aflita até a morte. Passou-lhe então diante dos olhos toda a cena funesta dos tormentos e dos opróbrios que lhe estavam preparados. Esses tormentos o oprimiram durante sua Paixão cada um por sua vez, sucessivamente, mas aqui no horto todos juntos e ao mesmo tempo o afligiram, as bofetadas, os escarros, os flagelos, os espinhos, os cravos e os vitupérios que teria de sofrer depois. Jesus os abraça todos juntos, mas, aceitando-as, sua tristeza treme, agoniza e ora: Posto em agonia, orava mais instantemente (Lc 22,43). Mas, ó meu Jesus, quem vos obriga a sofrer tantas penas? "É o amor que tenho aos homens", responde Jesus. Oh, como o Céu terá pasmado vendo a fortaleza tornar-se fraca, a alegria do Paraíso se entristecer. Um Deus aflito! E por quê? para salvar os homens, suas criaturas. Naquele horto se consumou o primeiro sacrifício: Jesus foi a vítima, o amor foi o sacerdote, e o ardor de seu afeto para com os homens foi o fogo bem-aventurado que consumia o sacrifício.

Meu Pai, se é possível, passe de mim esse cálice! (Mt 26,39). Assim suplica Jesus. Ele, porém, assim suplica não tanto para ver-se livre como para nos fazer compreender a pena que sofre e aceita por nosso amor. Suplica também assim para nos ensinar que nas tribulações podemos pedir a Deus que no livre delas, mas, ao mesmo tempo, devemos em tudo nos conformar com sua divina vontade e dizer como Ele: Todavia, não se faça com eu quero, mas sim como tu queres. E durante todo o tempo repetiu a mesma petição: Faça-se a tua vontade (...) e orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Sim, meu Senhor, abraço por vosso amor todas as cruzes que quiserdes enviar-me. Vós inocentemente tanto sofrestes por meu amor e eu, pecador, depois de haver merecido tantas vezes o inferno, recusarei sofrer para vos comprazer e alcançar de Vós o perdão e a vossa graça? Não seja feita a minha vontade, mas a vossa.