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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

SÉRIE: SANTOS CASADOS

A santidade no matrimônio ao longo dos séculos.

SANTA MÔNICA e PATRÍCIO


Mônica, a mãe de Agostinho (o grande Padre da Igreja no Ocidente) nasceu em 331, em Tagaste, no seio de uma família cristã extremamente devota, que provavelmente pertencia ao pequeno círculo de habitantes do norte da África que assimilavam a cultura e moralidade e romanas. Os pais de Mônica confiaram a maior parte da educação de sua filha e uma severa governanta, que instruía a jovem a controlar-se, a mortificar-se e, também, a ter em grande estima a moralidade cristã.

Na aurora de sua juventude, Mônica foi prometida em casamento a um homem chamado Patrício, dono de uma pequena propriedade em Tagaste e integrante do conselho da cidade. Ele era pagão, porém um homem bom e justo, mas inclinado à ira e por vezes à violência. Amava Mônica profundamente, mas isso não o impedia de ter um comportamento rude e desleal. No entanto, a bondade e brandura de Mônica conseguiu conquistar o caráter vicioso do marido, bem como as fofocas da criadagem e irritabilidade da sogra. Por ter vencido essas circunstâncias, Mônica passou a ser respeitada e admirada por suas amigas.

Mônica tinha vinte e três anos quando deu à luz seu filho primogênito, Agostinmho. Além de Agostinho, teve outro filho, Navígio, e uma filha, Perpetua. Com grande esforço e dedicação, proporcionou aos três filhos uma verdadeira educação cristã. Sabemos que Agostinho nasceu e logo foi inscrito na lista de catecúmenos, mas, segundo as tradições da época, ainda não receberia o batismo. No entanto, como ele mesmo relatou, absorveu o nome do Senhor Jesus Cristo do leite de sua mãe, de maneira que a fé cristã enraizou-se até sua medula. A respeito de Perpétua, sabemos que casou-se, porém logo enviuvou, e assim permaneceu, ficando até a sua morte como superiora de um convento em Hipona, o monastério feminino. 

No ano de 371, Mônica perdeu seu cônjuge Patrício. Graças aos esforços da santa esposa, ele havia sido batizado no ano anterior e morrera cristão.

Os dezesseis anos entre a morte de seu marido e a conversão de seu filho Agostinho foram o período mais conturbado e doloroso da vida de Mônica. Ao mesmo tempo, porém, foi período mais belo, pois ela conseguiu viver e completar a sua missão e vocação. No ano de 385, depois de Agostinho enganar sua mãe, deixar a África e ir até Roma, Mônica preparou-se para ir atrás do filho. Ela tinha cinquenta e quatro anos na época, e depois de uma turbulenta travessia chegou a Itália e, em Roma, começou a sua busca por Agostinho. Inicialmente, não teve sucesso, mas seguiu em seu encalço e enfim o descobriu em Milão. Ali encontrou já livre do contágio de heresia maniqueísta, mas sua relação com o cristianismo ainda era vacilante. Cheia de amorosa preocupação, Mônica permaneceu ao lado de seu filho, e um anos mais tarde teve a alegria de celebrar sua conversão, depois de tantas lágrimas derramadas e tantas orações enviadas aos céus.

Na companhia de Agostinho, que havia se convertido mas ainda não havia sito batizado, Mônica retirou-se para Cassago, e ali, durante a Vigília de Páscoa, em 24 de abril de 387, seu filho recebeu do bispo Ambrósio o Sacramento do Batismo. Ela esteve presente na ocasião.

Mãe e filho queriam voltar à África alguns meses depois. Em Óstia Tiberina, enquanto esperavam um navio para fazer a travessia até a África, Mônica contraiu uma doença grave que a levou à morte. Ela faleceu em Óstia e ali foi sepultada, conforme era seu desejo.

Examinemos mais de perto o retrato dessa santa esposa, mãe e viúva, que nos foi deixado através das palavras de seu filho, em suas confissões.

Educada assim na modéstia e temperança, Vós a tornáveis mais submissa aos pais do que eles a tornavam obedientes a Vós. Quando chegou a idade núbil plena, deram-na em matrimônio a um homem, a quem servia como a senhor. Procurava conquistá-la para Vós, falando-lhes de Vós pelos seus bons costumes, com os quais a tornáveis bela, respeitosamente amável e encantadora aos olhos do marido. Sofria-lhes também as infidelidades matrimoniais com tanta paciência, que nunca teve discórdia alguma com o marido por este motivo. Esperava que a vossa misericórdia, descendo sobre ele, o fizesse casto, quando crescesse em Vós.

Se o coração do marido era afetuoso, o temperamento era arrebatado. Mas ela sabia que era melhor não resistir à ira do esposo, nem por ações nem por palavras. Logo que o via mais calmo e sossegado, oportunamente lhe dava a explicação da sua conduta, se por acaso ele irrefletidamente se irritava. Enfim, muitas senhoras tendo maridos muito mais benignos, traziam no rosto desfigurado, os vestígios das pancadas. Conversando entre amigas, insultavam a vida dos esposos. Minha mãe repreendia-lhes a língua, admoestando-se seriamente como por gracejo. Lembrava-lhes que, desde o momento em que ouviram o contrato de matrimônio, como quem escuta a leitura de um documento pelo qual são feitas escravas, elas de deviam considerar como tais. Por este motivo, tendo presentes essa condição não podiam ser altivas com seus senhores.

Estas matronas, conhecendo o mau gênio que ela suportava ao marido, admiravam-se de nada lhe ouvirem, nem por indício algum constar que Patrício lhe batesse ou que algum dia se desaviessem por questiúnculas domésticas. Perguntavam-lhe familiarmente a razão, e a minha mãe expunha-lhes seu modo de proceder, de que acima fiz menção. As que o punham em prática, depois de o experimentarem, felicitavam-na. As outras que não faziam caso, continuavam a ser envergonhadas e oprimidas.

A princípio a sogra irritava-se contra ela, por causa de uns mexericos de escravas malévolas. De tal forma minha mãe conquistou com afabilidades, com paciência e mansidão inalteráveis que a própria sogra espontaneamente denunciou ao filho as línguas intrigantes das escravas como perturbadoras da paz doméstica entre a nora e ela, e lhe rogou que fossem castigadas.

Com efeito, depois Patrício, dócil à mãe e solícito pelo bom governo da casa e pela concórdia entre os seus, mandou flagelar as culpadas, segundo o desejo de quem as acusara. A sogra declarou que podia espera igual castigo  quem quer que, para lhe agradar, lhe dissesse mal da nora. Ninguém ousou mais expor-se a tal risco e viveram as duas em doce harmonia, digna de ser lembrada.

Concedestes ainda um grande dom e esta fiel serva em cujo seio me criastes, ó meu Deus e minha misericórdia. Quando podia, mostrava-se conciliadora entre as almas discordes em desavença, a ponto de ainda referir de uma a outra senão o que podia levá-las a reconciliar-se, ouvindo de um lado e de outro as queixas amargas as quais costuma vomitar a discórdia encolerizada e cheia de ressentimentos, quando em presença de uma amiga, o vômito de rancores contra a inimiga ausente desabafa em azedas confidências.

De pouca importância me parecia este bem, se uma triste experiência não me mostrasse que um grande número de pessoas (não sei porque horrendo contágio de malícia, já espalhado por muito longe) não só repete a inimigos encolerizados o que uns zangados disseram de outros, mas ainda acrescenta coisas que eles não proferiram. Pelo contrário, deve ter-se em pouca conta para alguém dotado de sentimentos humanos, o não atiçar ou não acender, com ditos malévolos, as inimizades dos outros, se não procura também, com boas palavras , extingui-las.

Assim era minha mãe, como Vós, seu íntimo Mestre, a ensinastes na escola do coração. Enfim, até Vós ganhou o marido, nos últimos tempos desta vida temporal, e não teve mais a lamentar nele o que lhe sofrera antes de se converter. Era verdadeiramente a serva dos vossos servos! Todos os que a conheciam Vos louvaram, honradamente, honrando-Vos e amando-Vos nela, porque lhe sentiam no coração a vossa presença, comprovada pelos frutos de uma existência tão santa. Tinha sido esposa de um só marido, saldara aos pais a sua dívida de gratidão, governara a casa piedosamente. Com as suas boas obras, dava testemunho de santidade.

Educara os filhos, dando-os tantas vezes à luz, quantas os via apartarem-se de Vós. Enfim, ainda antes de ela adormecer no Senhor quando já vivíamos unidos em Vós pela graça do batismo, era tão desvelada para todos (já que por vossa liberalidade permitis que nos dirigimos aos vossos servos) como se nos tivesse gerado a todos, servindo-nos como se fosse filha de cada uma.

Em suas confissões, Santo Agostinho descreve a morte de sua piedade mãe, em Óstia, e como despediu-se de Mônica, que era um exemplo de esposa, mãe e viúva, e que pode realmente de modelo para todos os casais cristãos.

HOLBÖCK, Ferdinand. Santos Casados: A santidade no matrimônio ao longo dos séculos. P. 21, RS: Minha Biblioteca Católica 2020.
 
   

CANONIZAÇÕES DE CARLO ACUTIS E PIER GIORGIO FRASSATI JÁ TÊM DATA MARCADA.

O papa Francisco anunciou nesta quarta-feira (20/11) as datas de canonização de Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati, exemplos de santidade especialmente para os jovens de hoje.

No final da Audiência Geral, Francisco anunciou que Carlo Acutis será proclamado santo durante o Jubileu dos Adolescentes, que será em Roma, de 25 a 27 de abril de 2025. Num comunicado posterior, o arcebispo de Assis, dom Domenico Sorrentino, disse que a canonização de Acutis esta marcado para domingo, 27 de abril de 2025, às 10h30, na Praça de São Pedro.

Ele também informou que Pier Giorgio Frassati será elevado aos altares durante o Jubileu da Juventude, entre 28 de julho e 3 de agosto do próximo ano.

A data de canonização de Carlo Acutis era aguardada com ansiedade desde que o papa Francisco aprovou o milagre atribuído à sua intercessão em 23 de maio: Valeria Valverde, uma costarriquenha de 21 anos, sobreviveu milagrosamente a um grave acidente de bicicleta que a deixou à beira da morte com traumatismo craniano grave.

Acutis, conhecido por muitos como "o influenciador de Deus", cuja vida e amor pela Igreja e pela eucaristia ultrapassaram fronteiras, será elevado aos altares em um dos dias em que adolescentes de todo o mundo fazem uma peregrinação a Roma como parte do ano Jubilar. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

TRÊS SANTOS QUE DEDICARAM A VIDA A PROTEGER E EVANGELIZAR OS NEGROS.

Hoje (20/11), é comemorado Dia Nacional da Consciência Negra. A seguir, a vida de três santos católicos que dedicaram suas vidas a proteger e a evangelizar os escravos negros na América e na África.

SANTA ROSA DE LIMA
A primeira santa do continente americano, padroeira da América, das Índias e das Filipinas, dedicou especial atenção à evangelização de índios e negros durante sua vida, entre o final do século XVI e o início do século XVII. Ela deu atenção preferencial à evangelização dos índios e negros".

E não podendo realizá-lo pessoalmente, contribuiu com suas orações e sacrifícios, além de arrecadar esmolas para que pudessem ser formados seminaristas pobres.

SÃO PEDRO CLAVER, O "ESCRAVO DOS ESCRAVOS"

Nascido em 1580 em Verdú, Espanha, são Pedro Claver, padre jesuíta, viveu a maior parte de sua vida e morreu em Cartagena das Índias, Colômbia, cuidado e evangelizando negros que foram levados para o continente americano como escravos.

Cartagena das Índias foi no século XVII um dos principais portos de entrada de escravos trazidos para os territórios hispânicos. Com a ajuda de catequistas poliglotas, são Pedro Claver abordou em todos os navios negreiros que entravam no porto".

Nos navios, com a ajuda de intérpretes, atendia os negros, alimentava, curava e evangelizava.

Ao fazer os votos perpétuos na Companhia de Jesus, São Pedro Claver assinou: Petrus Claver, aethiopum semper servus, que poderia ser traduzido como "Pedro Claver, escravo dos negros para sempre".

Estima-se que ele tenha batizado e evangelizado mais de 300 mil escravos durante as quatro décadas que viveu em Cartagena da Índias.

SÃO CHARLES DE FOUCAULD

O Francês são Charles ou Carlos de Foucauld, canonizado em 15 de maio de 2022, via a escravidão como uma "monstruosidade" e passou seus anos como eremita na África libertando e evangelizando escravos nas mãos dos nômades tuaregues na virada do século XX.

René Bazin, o primeiro biógrafo de Charles de Foucauld, cita-o comprometendo-se a "trabalhar com todas as nossas forças para abolir a escravidão.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

SÉRIE: SANTOS CASADOS.

A santidade no matrimônio ao longo dos séculos.

SANTO HILÁRIO DE POITIERS e ESPOSA.

Seria possível haver um bispo que, além de casado, fosse também um santo Padre e Doutor da Igreja? A resposta é sim: Santo Hilário, o notável bispo de Poitiers e bravo oponente do arianismo, doutrina que negava a divindade de Jesus Cristo e o rebaixava à condição de criatura. Muitas biografias de Santo Hilário não menciona o fato de ele ter sido casado e pai de uma filha, como se fosse algum constrangimento. Em outras, dedicadas a esse importante Padre e Doutor da Igreja, afirma-se que Santo Hilário era, sim, casado, talvez a intenção de usar a informação como um argumento contra o celibato clerical. Nesses casos, merecem uma análise mais atenta.

Hilário nasceu cerca de 315, em Poitiers, na Aquitânia (França), filho de uma família rica e pagã. Em sua cidade natal, e depois em Bordeaux, recebeu uma educação de elite, estudando principalmente gramática e retórica. Apesar de pagão, Hilário sempre repudiou os comportamentos ímpios de seus conterrâneos, que, sua maioria, viviam uma vida de luxúria e degradação moral. Tinha um alto cargo administrativo, e como era costume entre funcionários oficiais bem estabelecidos, casou-se. Seu matrimônio foi abençoado com a chegada de uma filha, que recebeu o nome de Abra.

Hilário tinha um grande anseio pela verdade, e esse anseio guiava cada vez mais seu coração junto e generoso, que não encontrava satisfação na filosofia pagã. Em seus esforços para chegar à essência das coisas, especialmente em relação ao sentido da existência humana, como que por acaso entrou em contato com as Sagradas Escrituras, e então, através de sua leituras com as Sagradas Escrituras, e então, através de sua leitura e mediante o auxílio da graça divina, acabou conhecendo a fé cristã. Por volta do ano de 345, Hilário, Abra, e sua esposa foram batizados na Vigília de Páscoa.

Se na época em que era pagão já vivia uma vida exemplar, como cristão Hilário passou a esforçar-se ainda mais, junto com a esposa e a filha. Os três passaram a ser exemplos para os seus companheiros cristãos em Poitiers, e tinham a melhor reputação possível. Por isso é compreensível que, quando a diocese de Poitiers ficou vacante, em cerca de 350, por decisão unânime Hilário foi considerado o mais digno candidato a suceder ao bispo anterior.

Hilário cedeu aos apelos dos cristãos locais e aceitou o cargo e as responsabilidades do episcopado. Às vezes menciona-se, clara e enfaticamente, que Hilário viveu em total abstinência a partir do momento em que foi consagrado como bispo. Se foi assim mesmo, a afirmação condiz com a conduta do santo bispo, que, mesmo quando pagão, sentia repulsa pelo estilo de vida desregrado e, em grande parte, imoral e corrupto, praticado por muitos de seus concidadãos. Pode-se também supor que quando Hilário chegou ao episcopado sua esposa já não estava mais viva. Ficava apenas Abra, sua filha, e o bispo sempre olhava por ela, como demonstra em uma carta. Mesmo que hoje em dia essa carta (Ad Abram Filiam) seja considerada ilegítima segundo alguns acadêmicos, seu conteúdo condiz perfeitamente com a atitude do Hilário como pai e bispo.

Devido à sua postura ortodoxa e anti-arinista, em 356 Hilário foi exilado para a Frígia, na Ásia Menor. Em 360 ou 361, foi enviado de volta a Poitiers. Ali, sua principal atividade foi guardar e reintroduzir a verdadeira fé. Reuniu o seu clero em uma sociedade a partir da qual nasceram as primeiras comunidades monásticas da Gália, através dos esforços de seu dedicado discípulo Martinho de Tours. A personalidade de Hilário agregava a diligência e senso de responsabilidade de um funcionário romano ao zelo de um ortodoxo pastor de almas: ele procurava unir a clareza à piedade, a compreensão mútua à unidade eclesiástica. Foi com essa mesma intenção, certamente, que ele viveu a união com sua esposa, antes de receber a ordenação episcopal. Por ter conhecido melhor a teologia oriental durante o exílio na Frígia, Hilário compreendeu (após voltar à sua terra natal, na Gália) como combinar a teologia oriental com a ocidental de maneira harmoniosa, como "casá-las", por assim dizer. Não é legítimo imaginar que também tenha sido assim em relação à harmonia com que viveu o seu casamento, antes de se tornar bispo? Além disso, como enfatiza em suas obras de teologia, esse Doutor da Igreja tinha plena convicção da compatibilidade entre fé e razão. Em seus escritos, deixa claro "o quão essencial, para um verdadeiro teólogo, é ter não apenas uma mente clara, mas sobretudo um coração repleto de fé". Uma mente clara e um coração repleto de fé": não é isso o necessário, especialmente entre casais cristãos, para se conduzir correta e pacificamente um bom matrimônio? Nesse sentido, Hilário poderia ser um exemplo para os cônjuges cristãos.

Hilário de Poitiers faleceu por volta do ano de 367. 

HOLBÖCK, Ferdinand. Santos Casados: A santidade no matrimônio ao longo dos séculos. P. 21, RS: Minha Biblioteca Católica 2020.   

terça-feira, 12 de novembro de 2024

SÉRIE: HISTÓRIA DOS PAPAS.

SÃO HIGINO
9º PAPA DA IGREJA
Pontificado 136-140 (4 anos)
Festa litúrgica 11 de janeiro

HISTÓRIA
Nasceu em Atenas, no Grécia, no ano 90, Higino era filho de um filósofo grego e, provavelmente, teve uma formação cultural e analítica mais ampla para sua época. Não são conhecidas muitas informações de sua vida, mas, como cristão, enfrentou as mesmas dificuldades da comunidade cristã de sua época, que era perseguida pelos pagãos. Seu pontificado iniciou no ano 136 e introduziu muitos costumes típicos e importantes da liturgia católica.

O Papa Higino sucedeu o Papa Telésforo e se esforçou em tornar mais precisa a questão da hierarquia no interior da Igreja. E parece mesmo que o Papa Higino gostava bastante de ordem, foi ele também quem introduziu o costume da existência do padrinho e da madrinha no batismo. Outra tradição amplamente difundida e praticada entre os católicos.

Além dessas marcas tradicionais do ritual e da estrutura católica, o Papa Higino enfrentou as típicas perturbações causadas pelas constantes perseguições as seguidores da fé cristã. Para o cristianismo primitivo, essa era uma condição comum, não diferente daquela enfrentada por muitos outros papas. Mas uma preocupação de seu pontificado foi e relação ao que se considerava como heresia, que nascia e começava a tomar forma naquele momento. O papa Higino identificou e condenou heresias e seus heresiarcas, conquistando vitória sobre eles.

Outro tipo de desafio aguardava Higino. Ele teve que excomungar e anatematizar o herege Cerdão, que pregava a existência de dois deuses. Um deles era o Deus, severo e difícil do Antigo Testamento, e o outro, o Deus bondoso do Novo Testamento, que enviara seu filho à Terra para libertar a humanidade da tirania do antigo  Deus. Este último, segundo Cerdão, era Jesus Cristo, que, na visão do herege, não teria realmente encarnado ou sido crucificado, mas apenas causado essa ilusão. Essencialmente, isso refletia o gnosticismo dualista, uma doutrina que ressurge periodicamente ao longo da história da Igreja. Alguns seguidores mais radicais dessa vertente afirmavam que, como Deus era maligno, todos os heróis do Antigo Testamento também seriam maus, enquanto seus inimigos seriam bons. Além disso, identificavam o demônio do Antigo Testamento com o Pai do Novo Testamento. Essa crença se baseava na antiga ideia de que a matéria (e seu criador) eram maus, sendo uma armadilha para as almas humanas. O verdadeiro Deus seria o criador apenas do espírito.  

Não há a certeza sobre a causa da morte do Papa Higino, mas registros indica que ele foi martirizado após quatro anos de pontificado, com  50 anos de idade no ano 140. Ele foi enterrado próximo à tumba de São Pedro.




quinta-feira, 7 de novembro de 2024

SÉRIE: SANTOS CASADOS.

A santidade do matrimônio ao longo dos séculos.

SÃO GREGÓRIO DE NAZIANZO e SANTA NONA.

São Gregório de Nazianzo, o Velho é um santo da Igreja Oriental. Foi casado com Santa Nona, que deu a ele três filhos.

Gregório nasceu por volta do ano 274. Era um rico proprietário de terras em Arianzo, perto de Nazianzo, e funcionário de alto escalão do governo. Quando à sua visão de mundo, no início pertenceu a uma peculiar seita que reunia em suas crenças uma mistura de elementos pagãos e judeus e adoravam a "Zeus Hipsisto", o Deus "altíssimo". 

Graças a Santa Nona, sua esposa cristã, aos quarenta e cinco anos Gregório converteu-se ao cristianismo. Foi batizado em 325 e passou a dedicar-se de todo coração à sua fé na congregação cristã de Nazianzo, na Capadócia, onde foi eleito como bispo quatro anos depois, em 329.

Ao aprovar a fórmula arianizante do Sínodo de Rimini (359), o bispo Gregório, o Velho, fez com que se revoltassem contra ele os monges de Nazianzo. Seu filho Gregório, o Jovem, interveio nesse desentendimento e reconciliou-os, graças a seu prestígio e ao seu dom de retórica.

Em 374 morreu o bispo Gregório de Nazinzo, o Velho com quase 100 anos de idade. Seu filho, que também era bispo, proferiu a oração fúnebre.

SANTA NONA, esposa de São Gregório de Nazianzo, o Velho, era filha de um certo Filâncio. A julgar pela descrição que seu filho São Gregório de Nazianzo, o Jovem, fez no discurso fúnebre para o pai, assim como nas orações fúnebres para o irmão Cesário e a irmã, Gorgônia, Santa Nona provavelmente foi um modelo de esposa e mãe cristã: sempre esforçando-se em praticar as virtudes cristãs e levar um vida genuinamente piedosa; era devota e modesta em extremo e demonstrava um profundo amor pelos pobres. Acima de tudo, criou seus três filhos de tal maneira que plantou em cada um os alicerces para sua futura santidade.

Santa Nona concluiu sua santa vida em 374. Morreu na igreja que costumava frequentar, durante a celebração da Eucaristia. O grande historiador da Igreja, César Barônio, empenhou-se em promover no Ocidente a devoção litúrgica a essa nobre mulher e mãe, incluindo-a no Martirológio Romano no dia 5 de agosto. 

HOLBÖCK, Ferdinand. Santos Casados: A santidade no matrimônio ao longo dos séculos. P. 33, RS: Minha Biblioteca Católica 2020.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

O QUE AS CRIANÇAS TÊM A VER COM A GUERRA?


No final da audiência geral, Francisco lançou um  novo apelo para rezar pela paz, elencando territórios por conflitos e violência: Ucrânia Oriente  Médio, Mianmar, Norte do Kuwu. E com olhar voltado para os últimos ataques na Faixa de Gaza, expressou tristeza pela morte de crianças e famíliares inteiras: "A guerra está crescendo. Ninguém ganha, todos perdem".

O Papa Francisco fez mais um apelo fervoroso pela paz, sensibilizado pelos relatos de guerra recentes. Durante a audiência geral na Praça de São Pedro, nesta quarta-feira, 30 de outubro, o Santo Padre lamentou profundamente a violência contra inocentes: "Ontem vi que 150 pessoas inocentes foram metralhadas. O que as crianças, as famílias, têm a ver com a guerra? Elas são as primeiras vítimas".

Ontem foi um dos dias mais trágicos em Gaza desde o início do conflito. Segundo a Defesa Civil Palestina, “770 pessoas perderam a vida apenas nos últimos 19 dias” na Faixa de Gaza. Entre as vítimas do bombardeio de ontem, estão 14 crianças, sendo seis de uma mesma família, que morreram no desabamento de sua casa e sufocadas pela fumaça dos mísseis israelenses, conforme fontes locais. No norte de Gaza, o exército israelense também atacou o hospital Kamal Adwan, um dos poucos ainda operacionais. Cerca de 150 pessoas, incluindo pacientes e equipe médica, ficaram presas no pátio central enquanto tanques israelenses disparavam contra o hospital, destruindo uma estação de oxigênio, segundo informações da Al Jazeera. Em Beit Lahia, outro ataque derrubou um prédio de cinco andares, resultando em cerca de 100 mortes confirmadas e ao menos 40 desaparecidos entre os escombros.

"Rezemos pela paz, a guerra está crescendo", disse o Pontífice no final da audiência, elencando mais uma vez as áreas do mundo atormentadas por conflitos para as quais, no domingo passado, no Angelus, ele havia pedido o respeito à "vida" e à "dignidade das pessoas e dos povos", bem como "a integridade das estruturas civis e dos locais de culto, em observância ao direito internacional humanitário".

"Oremos pela paz", insistiu o Papa. Francisco o repetiu três vezes para os fiéis e peregrinos oriundos de todas as partes do mundo reunidos na Praça. Quase uma ladainha para que os fiéis do mundo inteiro não vejam o horror como algo natural num contexto de conflito. "Oremos pela paz. A paz é um dom do Espírito e a guerra é sempre, sempre, sempre uma derrota".

"Na guerra ninguém ganha, todos perdem. Oremos pela paz, irmãos e irmãs... Oremos pela paz". 

domingo, 27 de outubro de 2024

PAPA FRANCISCO PEDE A IGREJA QUE OUÇA O GRITO DO MUNDO.


O Papa Francisco encerrou a assembleia final do Sínodo sobre a Sinodalidade neste domingo (27/10) com um apelo para que a Igreja "ouça o clamor do mundo" sem ficar "cega" para as questões urgentes de nosso tempo.

Na missa de encerramento do Sínodo na basílica de São Pedro, o papa disse que uma Igreja sinodal deve estar "em movimento", seguindo Cristo no serviço aos necessitados.

"Não precisamos de uma Igreja sedentária e derrotista, mas de uma Igreja que ouça o clamor do mundo (...) e suje suas mãos para servir ao Senhor", disse o papa em sua homilia.

Francisco disse que a Igreja não pode permanecer inerte diante das questões levantadas pelas mulheres e homens de hoje, dos desafios do nosso tempo, da urgência da evangelização e das muitas feridas que afligem a humanidade.

"Irmãos e irmãs, não uma igreja sedentária, mas uma Igreja de pé. Não uma Igreja silenciosa, mas uma Igreja que abraça o clamor da humanidade. Não uma Igreja cega, mas uma Igreja, iluminada por Cristo, que leva a luz do Evangelho aos outros. Não uma Igreja estática, mas uma Igreja missionária que caminha com seu Senhor pelas ruas do mundo", disse ele.

A missa marcou a conclusão da segunda assembleia da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que teve início em 2 de outubro e enfocou o tema "Por uma Igreja Sinodal: Comunhão Participação e Missão".

A assembleia foi o ponto culminante do processo sinodal da Igreja, iniciado há três anos. Durante o último mês, os delegados sinodais produziram um documento final d 52 páginas (em inglês, italiano e espanhol) que esboça recomendações para a renovação da Igreja, incluindo propostas para ampliar os papéis de liderança das mulheres, maior participação dos leigos na tomada de decisões e reformas estruturais significativas.

Rompendo a tradição, o papa Francisco anunciou que não escreverá uma exortação apostólica pós-sinodal. Ele optou por ratificar o documento final do sínodo, implementando diretamente as conclusões da assembleia. Embora a assembleia sinodal tenha terminado, 10 grupos de estudo sinodais continuarão a examinar a questão das mulheres diaconisas e outros tópicos importantes até junho de 2025.

Em sua homilia, o papa Francisco refletiu sobre o relato do Evangelho de Marcos sobre Jesus curando e cego Bartimeu. Ele disse que "o cego Bartimeu (...) representa a cegueira interior que nos restringe, nos mantém presos em um só lugar, nos afasta do dinamismo da vida e destróis nossa esperança".

"Tantas coisas ao longo do caminho podem nos tornar cegos, incapazes de perceber a presença do Senhor, despreparados para enfrentar os desafios da realidade, às vezes incapazes de oferecer respostas adequadas às perguntas de tantos que clamam por nós", disse o papa.

"Uma Igreja sedentária, que inadvertidamente se retira da vida e se confina às margens da realidade, é uma Igreja que corre o risco de permanecer cega e se acomodar em seu próprio mal-estar", disse ele. "Se permanecermos presos em nossa cegueira, deixaremos continuamente de compreender a urgência de dar uma resposta pastoral aos muitos problemas de nosso mundo."

O papa Francisco, vestido com vestes verdes para o 30° Domingo do Tempo Comum, fez sua homilia lentamente, muitas vezes parando para falar de improviso. Ele descreveu a imagem de uma "Igreja sinodal" com aquele em que "o Senhor está nos chamando, levantando-nos quando estamos sentados ou caídos, restaurando nossa visão para que possamos perceber as ansiedades e os sofrimentos do mundo à luz do Evangelho". 

"Lembremo-nos de nunca caminhar sozinhos ou de acordo com os critérios mundanos", acrescentou, mas, em vez disso, caminhar 'segundo Jesus ao longo da estrada'.

No altar, o Cardeal Mario Grech, secretário-geral da Secretaria Geral do Sínodo, foi o celebrante principal.

Mais de 300 padres e bispos, 70 cardeais e nove patriarcas concelebraram a missa de encerramento do sínodo sob o dossel do baldaquino recentemente restaurado sobre o altar central.
Reportagem: Courtney Mares 

sábado, 26 de outubro de 2024

PAPA FRANCISCO NÃO PRETENDE PUBLICAR UMA EXORTAÇÃO PÓS-SINODAL.


Na 17ª Congregação Geral, o papa Francisco e o presidente delegado concluíram os trabalhos da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, o Sínodo da Sinodalidade. O documento Final será divulgado em breve e uma conferência de impressa explicará aos jornalistas e ao mundo tudo o que foi decidido. Não haverá exortação apostólica pós-sinodal, disse o Papa Francisco.

O papa Francisco encerra oficialmente os trabalhos com um discurso que fala sobretudo do Espírito Santo, aquele que cria a harmonia. "O Senhor Ressuscitado chama a ser testemunhas do seu Evangelho com a nossa vida antes do que com as palavras. O bispo de Roma também precisa de praticar a escuta, aliás, que praticar a escuta. A minha tarefa é guardar e promover a harmonia que o Espírito continua a difundir na Igreja de Deus. Todos somos convidados para o banquete, todos ninguém fica de fora. A palavra-chave é harmonia. Harmonizar todas as diferenças. É nos dado amplificar a voz do Espírito Santo, abrir portas sem erguer muros. Que mal fazem os homens e as mulheres da Igreja quando erguem", disse o Papa no seu discurso. 

"Começamos esta assembleia sinodal a pedir perdão e a sentir vergonha. Não devemos ser rígidos, a rigidez é um pecado que tantas vezes entra nos clérigos, nos consagramos e nas consagradas. À luz do que foi dito, há e haverá decisões a tomar neste tempo de guerra, devemos ser testemunhas da paz. Por isso, não tenciono publicar uma exortação apostólica, basta que aprovámos, há já indicações muito concretas que podem ser um guia par missão das Igrejas nos diversos continentes. Ponho-a imediatamente à disposição de todos. Quero que seja publicada imediatamente, é esta notícia. Não haverá, portanto, exortação apostólica pós-sinodal.
Quero assim reconhecer o valor do caminho sinodal percorrido, através deste documento que entrego ao povo fiel de Deus. Há necessidade de tempo para chegar a escolhas que envolvam toda a Igreja. Não se trata de adiar indefinidamente as decisões, mas do que corresponde ao estilo sinodal: escutar, convocar, decidir, avaliar. A pausa, a oração são necessárias. O Secretariado Geral do Sínodo ajudar-me-á nesta tarefa. Nem todos o lerão, serão sobretudo vós que o tornareis acessível às Igrejas locais. O que vivemos é um dom e não o podemos guardar para nós. Agora, que as palavras partilhadas sejam acompanhadas de atos", comentou ainda o papa Francisco.
Reportagem: Veronica Giacometti

DIACONATO FEMININO AINDA SERÁ ESTUDADO.

O cardeal Víctor Fernández, prefeito do dicastério para a Doutrina da Fé da Santa Sé (DDF), disse que o diaconato feminino será objeto de estudo mais aprofundado, impulsionado pelas propostas enviadas à comissão designada para esse trabalho. O cardeal disse também que essa questão, embora o papa Francisco a considera não "madura", não é uma "questão encerrada".

Aprofundar as diferenças entre ordem sagrada e poder, pra confiar aos leigos funções de liderança na Igreja, é, para o cardeal o objetivo do trabalho do grupo que lidera no Sínodo da Sinodalidade  para refletir sobre o papel da mulher na Igreja, a pedido do papa Francisco.

O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé disse isso em um encontro no dia 24/10 à tarde com quase cem membros, convidados e especialistas participantes do sínodo para ouvir suas perguntas e propostas relacionadas ao trabalho do grupo cinco.

A reunião foi convocada por iniciativa do cardeal Fernández depois da indignação de alguns membros devido à sua ausência numa reunião marcada para a semana passada.

Segundo os relatos e o áudio divulgado depois do encontro , o cardeal disse que a maioria das mulheres quer “ser ouvida e valorizada”, pede para “ter autoridade” e poder desenvolver os seus carismas sem pedir especificamente o diaconato feminino, já que não querem ser “clericalizadas”.

“Penso nas teólogas que em alguns lugares do mundo não têm possibilidade de desenvolvimento ou liberdade real para o trabalho teológico (...) nas mulheres que têm dons para liderar comunidades (...) ou nas mulheres que têm grande capacidade de aconselhar como os melhores consultores ou diretores espirituais, mas não são aceitas porque não têm ordem sagrada”, disse Fernández.

O cardeal também falou sobre a possibilidade desse tema ser o tema principal do próximo sínodo.

“Não sei quais são os procedimentos para propor os próximos temas, não é minha função, mas talvez esse seja um dos temas propostos” no final deste sínodo, disse o prefeito do DDF.

O cardeal disse também que “a experiência da Amazônia” é “muito importante” para esse estudo pela existência, “de uma experiência de comunidades lideradas por mulheres sem sacerdote”.

“Essa experiência é muito importante para nós e já consultamos algumas mulheres” que pertencem “a grupos leigos que visitam constantemente as comunidades”, disse dom Fernández.

A ideia dos ministérios, disse o cardeal, “não é uma decisão do bispo que escolhe um amigo para um cargo importante, mas sim uma necessidade na comunidade e há em algumas pessoas um dom que responde a essa necessidade”.

“Devemos ter cuidado com isso para não criar uma estrutura que, em última análise, permaneça dependente da autoridade”, disse dom Fernández.
Reportagem: Almudena Martínez-Bordiú